No início da década de 1990 internei-me no hospital Santa Mônica com o objetivo de, por meio da cirurgia, ter retirados alguns cálculos biliares.
O estabelecimento ficava na Rua Fernando Febeliano da Costa entre a Avenida Carlos Botelho e a São João. Defronte à entrada principal, do outro lado da rua, havia um ponto de táxi.
Ingressei na tarde do dia anterior ao que se realizaria a operação. Submeti-me à pesagem, à raspagem dos pelos pubianos, daqueles do abdome, e a uma rigorosa higiene geral.
Durante o tempo de espera pude perceber que o hospital estava lotado. Havia parturientes, crianças recém-nascidas no berçário, idosos em recuperação, pacientes que se recompunham de infartos, derrames cerebrais, além dos profissionais que iam e vinham numa azáfama pra mim bem complicada.
Na manhã seguinte fui conduzido, na maca, para a sala de cirurgia. Colocado sob o holofote da mesa especial, cercado por médicos e enfermeiros paramentados com as vestimentas brancas, um deles se aproximou e me perguntando o nome emendou:
- Tem ouro? Prótese dental?
Diante da minha negativa, com uma injeção na veia do braço direito, senti que apagava lentamente.
Acordei muitas e muitas horas depois no quarto, sentindo dores terríveis. Havia um cateter nasal, um na uretra e, no braço esquerdo, outro, fincado na veia, que me nutria com soro. Passei uma das noites mais dolorosas da minha vida.
Um pouquinho antes do amanhecer, daquele primeiro dia após a cirurgia, do lado de fora, vindo do ponto de táxi, rojões explodiam durante minutos intermináveis.
A moça que viera trazer o café da manhã (chá e bolachas) respondendo à minha interrogação sobre o bombardeio, dissera-me que era muito comum, frequente, um dos motoristas espantar com as bombas, logo que chegava pela manhã, ao serviço, os pássaros que dormiam nas árvores, porque não teria que lavar, repetidas vezes, o teto do seu automóvel, por causa das evacuações matinais dos tais bicudos emplumados.
Ou seja, para aquele taxista, pensei comigo, valia muito mais o teto limpo do seu carro, conseguido com as explosões matinais, do que a paz, a tranquilidade da centena de pacientes internados, naquele hospital.
A moça me dissera que já houvera reuniões da diretoria sobre o assunto e que aquele conflito poderia ser resolvido com três soluções diferentes: a primeira seria a mudança do ponto de taxi; a segunda, com a mudança do hospital, e a terceira, com a educação do tal bombardeador.
Se o sujeito fazia isso quando era taxista, imagine o que não faria se tivesse um cargo eletivo, por exemplo, de vereador, presidente da câmara municipal, ou prefeito.
Esse tipo de personalidade é daquela que não se importa muito com todos os outros. Temos exemplos notórios recentes. Ninguém se esqueceu que durante a gestão passada, quando vereadores da situação, para manterem a coerência partidária, defenderam injustiças cometidas pelo SEMAE (autarquia municipal), que cobrava preços absurdos, injustos, pelo uso da água.
Quem sofreu com as burradas legislativas da gestão anterior, se não atentar para as ações desta atual, não terá, com certeza, mais satisfações do que as que teve com aquela que se foi.
Bom, só pra deixar bem claro, pros meus leitores, devo informar que a solução para aquele conflito gerado pelos pássaros e as bombas, foi resolvido da melhor forma: com a mudança do hospital.