![etubaína.jpg etubaína.jpg]()
Com tremores nas mãos evidenciados quando levava o copo de parati à boca Van Grogue, naquela tarde no bar do Bafão, achava que não dava mais para esconder a afecção que o atacava.
- Essa turma faladeira, fofoqueira, diz que estou a perigo por causa dos tremelicos; dizem que é delirium tremens, mal de Parkinson, mas não é nada disso.
- Isso daí é o resultado do tempo em que você, seu ébrio, desacerto da natureza, passou nos parques da cidade – garantiu Silvester Stalonge ao entrar no botequim lambendo um imenso sorvete de morango e colocar sua pasta de escriturário executivo sobre a mesa vermelha, vizinha do Van.
Silvester Stalonge também conhecido por seu janotismo afrouxou o nó da gravata, lançou no lixo a guloseima que chupava, sentou-se à cadeira de plástico vermelho buscando estar confortável; em seguida, com muita segurança estalou os dedos pedindo, num vozeirão, um litrão da mais famosa cerveja nacional.
Bafão sabia que o executivo era importante; fizera até discurso na tribuna da Câmara Municipal, por isso, com celeridade, buscou atender ao freguês.
- Aí sim, seu Van de Oliveira todo-torto Grogue, o doutor tem razão. Ele é forte e sabe o que fala; desmilinguiu, com aquele discurso, feito na sessão camarária de quinta-feira, a pretensão do Jarbas de candidatar-se novamente.
- É pode até ser, mas o pessoal não gostou do que ele disse na tribuna. A própria vovó Bin Latem, também conhecida como escrava Isaura, (que foi como todo mundo sabe, chefe do gabinete do nosso Czar municipal), quem garantiu, na reunião do partido, que ele – o Silvester Stalonge - não deveria criticar o já tão abalado alcaide brejeiro – respondeu Grogue.
- A Bin Laten, escrava Isaura, disse que o responsável pelo convencimento desse senhor aí, esse tal de Stalonge, a proferir as asneiras da tribuna da câmara foi o Célio Justinho, marido da Luísa Fernanda a gerente comercial mais atrapalhada que foguista da maria fumaça tentando pilotar uma locomotiva a diesel – completou Bafão sentindo a esperança de ver novamente o boteco cheio, com o esmaecimento da pandemia - Célio Justinho falou tanto na cabeça da Bin Latem que ela não teve como impedir que o Silvester Stalonge, da tribuna, “metesse o pau” no prefeitão cri-cri – continuou Bafão.
- Quem, quando moleque adolescente em 1969, no rancho de pescaria do pai do Tone Pintowski depois de comer pão com mortadela e tomar um litro de Etubaína na hora do almoço, pulou o muro do rancho vizinho e vendo uma enorme colmeia de abelhas fixado num dos galhos da imensa árvore, chamando os outros dois irresponsáveis, comunicando-lhes o fato e principiando o apedrejamento das coitadinhas das abelhas até que a colméia viesse abaixo não tem estofo moral pra falar nem ao menos da vovó – escrava Isaura – Bin Latem – agrediu Silvester Stalonge.
- Eu também sei dessa história seu Grogue das quebradas. Contaram que à tardezinha, quando estavam no rancho, todos distraídos, assustaram-se ao ouvirem alguém, do outro lado do muro, do tal rancho vizinho invadido, esbravejando, desejar saber quem tinham sidos os fdps que destruíram o seu enxame de estimação – acrescentou Bafão.
- É verdade vocês têm razão. O cara estava tão furioso que sacou um revolver imenso, tipo três oitão, todo cromado, e brandindo-o com palavras ameaçadoras, mandou um tiro pro meio do rio. Meu... Quando eu vi a coluna de água que se levantou quando atingida pelo projétil eu senti muito medo e só pude mentir que tinha sido outro camarada que estava conosco no rancho, mas que naquele momento já tinha ido embora – confessou o contrito Grogue.
O movimento no boteco que ainda por causa da pandemia mantinha as portas fechadas, deixando uma pequena abertura para o atendimento da maioria dos fregueses não dava sinais de mudança.
Lá dentro meio que abafados pela ventilação parca, Silvester, Bafão e Van de Oliveira mantinham a conversação.
- É, mas você não pode se gabar muito não, seu Silvester. O povo sabe que você, quando mocinho, frequentava as saunas da cidade. É ou não é? – provocou Van Grogue.
Silvester sentiu seu rosto avermelhar-se. Van continuou:
- Dizem que você, mano “véio”, com sunga fio dental gostava de, quando estirado naquelas espreguiçadeiras, depois dos jatos da ducha escocesa, gostava de falar de Paris, da data da construção da torre Eifell e coisa e tal...
- É isso mesmo Silvester. O povo fala, murmura... E aquele ar condicionado que você vendeu baratinho pro primo do Pabllo Vittar? Tinha nota fiscal? Ele pagava laranjadas pra você? – completou Bafão que, ao que parecia, não defendia lado nenhum, mas simplesmente observava os fatos.
- Quantas vezes, caro colega considerado, vossa senhoria, foi com o primo do Pabllo Vittar à sauna? – indagou o todo curioso Van Grogue.
- Vocês querem me denegrir. Assim não pode assim, não dá. Vou-me embora. Tenho um futuro a me esperar. Se eleito for, garanto que enquanto esse boteco não pagar toda a dívida ativa oriunda das taxas de poder de polícia e de ICMS, tudo farei pra não renovar o alvará de funcionamento – esbravejou o Stalonge ao jogar R$20,00 sobre o balcão, pegar sua indefectível pasta de couro e sair rapidamente.
- Hi rapaz o cara ficou bravo – Comentou Bafão.
- É verdade. Queimou o pelo – concluiu Van de Oliveira.