Março 25, 2019
Fernando Zocca
Acostumado a andar a pé pelas ruas da cidade, depois que comprei a moto, há mais de um ano, desacostumei completamente.
E pra ver o que restava do meu desempenho de pedestre, deixei hoje, depois do almoço, a condução, indo pro clube praticando o velho pedestrianismo.
As juntas todas agradeceram. Depois de 5 quarteirões vendo quase todos os demais veículos passarem por mim a quase 100 kilometros por hora, na Avenida Alberto Vollet Sachs, ponderei não haver muita importância em chegar tão depressa ao destino.
Afinal os que se valem dos deslocamentos muito rápidos são os veículos do Samu, das Polícias ou dos Bombeiros.
Durante o trajeto, depois que passei por um depósito de material reciclável, fui ultrapassado por um bêbado que, daquele jeito, mais de quem cercava frango, do que do de Usain Bolt, buscava safar-se de um chinês que corria atrás dele com um ferro imenso na mão.
A cena me interessou muito. A curiosidade me fez parar na esquina da rua próxima. Ali estavam os dois homens. Um encostado na parede, completamente acuado, e o outro, emitindo palavras em mandarim, brandia loucamente um pedaço de ferro diante da face do alcoolizado.
- Pagar... Pagar... Pagar... – falava num português enviesado o chinês cobrador.
Imaginei que ambos saíram de um rendez-vous que há tempos viceja no trecho. Sem ter como se livrar da cobrança violenta o ébrio clamava dizendo que pagaria mais tarde toda a sua conta.
Completamente alheio aos clamores do encachaçado, o chinês enfurecia-se mais e mais a cada momento.
Foi quando então, ao que parece, um conhecido do devedor aproximou-se da zona do conflito.
- Eu disse que ia até o banco pra sacar o dinheiro e pagar a conta, mas esse chinês burro não acreditou – informou o ébrio ao seu conhecido que chegava.
Impassível o cobrador brandia com, cada vez mais revigorado ardor, o bastão de ferro diante da cabeça do atordoado.
Então o parceiro do bebum, tirando do bolso uma carteira gorducha, e perguntando quanto seria a dívida do fugitivo, mandou pras mãos do china os valores cobrados.
Aliviado e sem dizer qualquer palavra, depois do afastamento do credor, o ébrio sentou-se na mureta de uma casa em ruínas.
- Com essa idade e tamanho você ainda não aprendeu que deve pagar as pingas que bebe principalmente se estiver naquele puteiro miserável?
- Obrigado. Um dia eu te devolvo a grana – garantiu o folgado.
- É bom ir se preparando, meu amigo, porque os remédios pra gonorreia não estão assim tão em conta – avisou o salvador ao se afastar do preso que acabara de livrar.
Texto revisado
26/03/2019