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O Prato do Dia

O Prato do Dia

Agosto 04, 2016

Fernando Zocca

 

 

 

O calendário eleitoral brasileiro nos diz que estamos no tempo em que os senhores candidatos procuram comprar suas vagas da forma mais lícita possível.

Então não é nada difícil você encontrar a proliferação dos churrascos, cervejadas, festas sob mil motivos, cujas intenções não deixam de demonstrar os desejos dos financiadores.

Se para ocupar um lugar de destaque, bem remunerado no funcionalismo público, o cidadão deve se submeter às provas de conhecimentos e títulos, para os cargos eletivos, basta agradar ao eleitor que, certamente, retribuirá com o votozinho tão necessário.

No exercício das funções atribuídas por lei aos concursados, os erros, equívocos, danos ao patrimônio ou ao erário, são apurados no campo administrativo e também no judicial. As penalidades podem chegar da advertência, até a exoneração a bem do serviço público.

Nos deslizes cometidos na vigência dos mandatos eletivos, a comissão parlamentar de inquérito pode preceder as investigações do ministério público ou seguir paralelamente.

Nos casos de superfaturamentos, como por exemplo, de ambulâncias, agências de automóveis, automóveis, trens, metrôs, a comissão pode chegar a resultados pífios sendo logo engavetados, por decisões incontestáveis.

A gente pode dar risada, não acreditar no que acontece, mas é o resultado de todo o alvoroço, o real indicativo das ocorrências.

Se conhecemos as pessoas pelo que elas fazem, é impossível deixar de concluir que a riqueza extrapolante dos limites dos salários e seus penduricalhos, amealhada por elas, durante o exercício dos mandatos legislativos, não pode ser o resultado de nada mais que a apropriação do conteúdo dos cofres públicos, onde metem as mãos até os braços.

Desta forma o exercício do cargo eletivo, mesmo sendo ele o de interventor de estado, ou os conseguidos com o voto popular, para prefeito de capital, ou como governador de estado, seriam as formas com as quais se aplicariam os grandes planos de enriquecimento. A conclusão é verdadeira na medida em que o eleitor pode comprovar os resultados das lambanças administrativas: imóveis em três ou quatro cantos, esquinas de bairros centrais, edifícios inteiros construídos e jacentes em nomes dos famosos “laranjas”, cunhados, pseudoempresários da cidade.

O pior não é isso somente. O pior ocorre quando os corruptos e seus seguidores, a pretexto de manterem o monopólio do conhecimento científico, determinam os destinos dos que supostamente atrapalhariam os seus cursos políticos.

Particularmente em Piracicaba, a raiz política é bem podre. A nata que aí está, há décadas no executivo, é oriunda dos adeptos das práticas contrárias às leis morais e sociais.  Hoje em dia o sujeito não precisa cursar a universidade Popular de Berlim durante quatro anos, fazer especialização em Paris, Londres, e em Manguinhos para aplicar os golpes com os quais enriquece como se na loteria ganhasse. Absolvições nos tribunais superiores não significam necessariamente inocência.

Mas, voltando para o plano mais baixo, veja que em troca das cervejas, churrascos, dinheiro, promessas de emprego, o eleitor geralmente não vê problema nenhum em votar neste ou naquele fulano. Não é a ideologia, as plataformas, os projetos de governo, ou a atuação parlamentar, que norteiam o eleitor. É o benefício pessoal imediato que o candidato pode dar ao votante, ávido, carentíssimo, de gentilezas.

Você já sabe: se gentileza gera gentileza, churrascos, cervejadas, festas mil, geram inclusive votos.

Se colocarmos na “ponta do lápis”, compararmos, as despesas que o pretendente tem durante o tempo de busca de votos, e o que ele ganhará com os salários, mais acessórios, (sem contar com os frutos da corrupção), durante os 48 meses da gestão, veremos que a vantagem é altamente estimuladora da aventura política. Como é que você pode ter os imóveis que tem fabricando canoas?

Não é nem o desempenho técnico/funcional do cidadão eleito que determina ou não a sua elevação ao cargo pretendido. É antes a atenção, o afago alimentar que ele dispensa aos insaciáveis degustadores dos acepipes de ocasião.

E quem não gosta de “uma boquinha livre”, não é verdade? Mesmo assim há os que participam dos comes e bebes, mas nem por isso se deixam levar pelos apelos que podem também ser traduzidos por “socorro, preciso de emprego, quero seu voto”.

Mas é bom avisar que não é porque o pretendente investe seu dinheiro nas festas que ele terá seu “carguinho” garantido. Já vi gente fazendo churrasco de peixe, financiando festa junina, de aniversário, doando uniformes para vários times de futebol, que não conseguiu o retorno financeiro, com os salários do cargo, por não terem sido eleitos.

Essa troca de favores, gentilezas, funciona desde há muito tempo na politica brasileira. Perceba que são sempre os mesmos. Os eternos candidatos predispostos a oferecer seus préstimos para a solução dos problemas da cidade; não raro, julgam-se os melhores, os mais inteligentes, os mais hábeis, para fazer ou desfazer na urbe.

Essa captação de voto no varejo difere da outra forma de aquisição de potencial para a disputa eleitoral.

Os acordos com as grandes indústrias, empresas, empreiteiras, fornecedoras de capital selam as avenças de parceria que, quando atingidos os objetivos, teriam o poder de fazer retornar o capital investido, multiplicado muitas e muitas vezes, por meio das licitações fraudadas e com os indubitáveis preços superfaturados.

Negócios são negócios. Enquanto isso o povo segue na carência sofrendo dificuldades nos transportes públicos, no atendimento nos postos de saúde, na insegurança. E a pior desfaçatez consiste na negação de que ao acúmulo de bens subtraídos dos cofres públicos não corresponde a miséria do povo.

Quando ainda moço eu tinha um Chevrolet. Era um Chevette marrom, fraquinho, mas era meu. Que saudades do meu Chevrolet.

 

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