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O Prato do Dia

O Prato do Dia

Maio 31, 2023

Fernando Zocca

O Gelinho   

 

Sombrinha, a estonteante e estonteada, uma ridícula na opinião de outros, caminhou rebolando pela calçada daquela rua importante do bairro Vila Dependência parando defronte a casa do Delsinho Espiroqueta.

- Coisa, ô coisa – disse ela batendo palminhas.

Delsinho que ouvia um disco de músicas Gospel apurou os ouvidos para adivinhar quem àquela hora interrompia seu lazer predileto.

- Coisinha, ô bonitinha da titia! Vem pro lero-lero, neném- reforçou Sombrinha.

Delsinho desligou a sonata e, abrindo a porta, pode ver quase sem nenhuma surpresa aquele seu maldito cachorro peludo sair na frente, desembestado latindo feito um pet fedido e celerado.

- Ah é você sombrinha. Não esperava essa visita. Mas entre. Vamos por em dia as denuncias.

Sombrinha esgueirando-se toda foi entrando. Ao chegar onde Delsinho passava a maior parte dos seus dias, percebeu um odor de morrinha e cachorro molhado. Não disse nada para não constranger a meninona já mais pra baleia do que pra peixinho vermelho de aquário.

- Ai coisa, não repare na bagunça. Cheguei agora do meu segundo emprego de doméstica e não tive tempo pra arrumar o meu “mocozinho” – desculpou-se Delsinho.

- Não esquenta a cabeça gazela amada. Eu sei como é isso – respondeu Sombrinha sentando-se no sofá sobre uma camada dos quase invisíveis pelos do animal.

“Na verdade eu passei por aqui pra te contar um babado bafonico que eu ouvi na casa daquela médica da empresa pública, quase privatizada, por esse prefeito mais esquisito que umbigo excretor de fetidez – continuou Sombrinha – Eu passei pra dizer ééé que uma funcionária da prefeitura, conhecida pedófila encarquilhada, ao receber... ééé na sua casa um meninozinho ééé que treinava – era aprendiz - para ocupar futuramente uma vaga de emprego ééé saiu do banheiro nua, enrolada só numa toalha de banho e, na sala, foi conversar com o menino. Sem querer ou quase não se importando, deixou a bendita toalha cair no chão ao memo tempo em que olhava o espanto no rosto da criança.   

- Acho que já sei quem é - avançou Delsinho - Essa baranga não participou de um filme chanchada em que fazia sexo com um menino de 12 anos?

- É isso mesmo coisa. Como soube?

- Todo mundo sabe disso. A pedofilia em Tupinambicas das Linhas é mais comum do que tomar café na padaria. E vou te falar mais viu? Tem sapatão que aprecia mais novinhas e novinhos do que os velhotes da politica Tupinambiquence.

- Ai coisa. Credo. Quem tá espalhando essa merda toda? – Delsinho estava curiosíssimo. Ocê dedou?

- Dedei, bem. Então você não soube que o Joseph Sabinowski ele próprio, quando criança, era obrigado a submeter-se a lascívia da empregada doméstica quando a mãe dele não estava em casa?  – Aqui é assim bem. A barangada treina antes da conjunção carnal na molecadinha pobre. Mas voltando à funcionária municipal, ela aposentou-se; mesmo assim foi recontratada. Ela recebia dois vencimentos e ocupou, por um bom tempo, o lugar de quem pretendia um primeiro emprego.

Enquanto elas conversavam alguém bateu palmas.  Delsinho foi atender e surpreendeu-se quando viu o diretor professor  J. F. Embrulhanus que foi logo dizendo:

- A gente estamos fazendo uma campanha pra ajudar os pobres do bairro. Você não tem alguma coisa pra doar?

Nervoso Delsinho, sem responder entrou deixando o professor “no vácuo”.

Enquanto saia, o pedinte espirrava e tossia como se infectado estivesse.

- Essa gente vem pedir ajuda, leva nosso alimento e deixa doença pro povo.

Quando as duas viram-se a sós no ambiente, Sombrinha sofreu um acesso de espirros e tosse. Mesmo assim conseguiu dizer:

- Eu soube que essa criatura come doidamente. É uma compulsão. Tem medo de engordar, por isso vomita tudo e volta a comer novamente.

Quando Delsinho percebeu que poderia ser infectado pela gripe disse:

- Coisa é o seguinte: Estou sarando agora das hemorróidas doídas pra chouriço mouro – coisas do amor, você sabe - e não posso me resfriar. Se me dá licença vou me recolher.

Sombrinha entendendo a problemática sem solucionática da colega de métier, com beijinhos despediu-se de Delsinho e ao sair não pode deixar de presenciar a perseguição daquele pet do Demônio que latindo loucamente a seguiu até a esquina.

Quando se preparava pra chamar o taxi de aplicativo viu um Jipe velho vermelho dirigido pela Marta Arbustodorto. Ela, com um sorriso maroto no rosto, chupava ostensivamente um gelinho enquanto, botando a cabeça pra fora de janela esgoelava:

- Eu sou chique bem. Até conta no bando do Brasil, a mamãe aqui tem...

 

Novembro 29, 2021

Fernando Zocca

 

 

Uma lei que possibilite a substituição do cartão de gratuidade, emitido pelas empresas de ônibus, pela cédula de identidade do usuário, facilitaria a vida tanto dos cidadãos quando da parte burocrática desse meio importante de transporte.

Atualmente a pessoa com mais de 60 anos, para conseguir o cartão de gratuidade, precisa comprovar o local da residência que pode ser feito com um documento da CPFL ou do SEMAE.

É necessário também que o interessado apresente o seu documento de identidade em que conste ter a idade necessária para usufruir do benefício garantido por lei.

Se ele comparece ao guichê da empresa sem saber quais documentos precisa trazer para a obtenção desse incentivo, deverá voltar depois, com a papelada satisfatória das exigências legais.

Veja quanto tempo, pense bem, nos desconfortos dos deslocamentos, no tempo gasto, e na escolha dos papéis – recibos de pagamento das contas de água e luz - necessários.

Se você depois de algumas idas e vindas conseguiu tudo isso e, no setor da empresa, que lhe concederá ou renovará o seu cartãozinho, após 10 ou 15 minutos na fila, pra retirar a senha – veja bem – tanto tempo só pra conseguir a senha, e quando chega a sua vez, é informado, sem mais nem menos, que não lhe darão a senha porque o “sistema” está sem sistema, você faz o quê?

Bom, você antes mesmo de vociferar contra o desaforo, a maldade, a má intenção, a perseguição política e religiosa, pensa no metrô de São Paulo, onde os idosos, com direito a gratuidade, usam somente a carteira de identidade para a passagem pelas catracas.

- É, mas como você fará que a sua cédula de identidade seja reconhecida como sendo daquele cidadão com direito ao benefício? – perguntaria seu colega interessadíssimo nesse importante assunto envolvente de milhares e milhares de cidadãos.

A passagem gratuita seria concedida ao cidadão que provasse ter a idade mínima, exigida para a concessão do benefício, verificada por fiscal da empresa que, ao lado da catraca, com o seu cartão pessoal, liberaria o dispositivo, depois de observar o documento apresentado pelo consumidor.

Menos burocracia, menos desconfortos e estresses, tornariam esses momentos, da necessidade do uso dos transportes públicos, mais saudáveis para esse grande segmento dos eleitores.

Vamos lá?

Mãos à obra senhores edis?

 

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Outubro 26, 2021

Fernando Zocca

 

Não estaria o governo federal a fazer gentileza com o chapéu alheio?

Sim, estaria sim.

Quando a administração retira o líquido e certo (que não é mais dele – governo federal) de alguém (credores dos precatórios) para satisfazer outros (bolsa Brasil), estaria descobrindo uns santos para cobrir outros e isso tudo com a intenção de reeleger-se.

Aí você meu amigo advogado diz “olha, cabe uma ação popular contra esse ato lesivo e, digamos, ilegítimo da administração”.

Sim, mas vá pensando no tempo que isso tudo durará. Não vale a pena.

Então a amiga advogada diria “se os valores estão contabilizados um arresto das rendas garantiria os credores”.

Na verdade, meu amigo, difícil mesmo é garantir que os vencedores dessas pendengas jurídicas levem os louros da vitória e que não sejam considerados investidores involuntários da campanha de reeleição do Sr. Jair Bolsonaro.

Afinal existiria ação mais benevolente e humanitária do que proporcionar um auxílio mensal de R$400 aos necessitados?

É claro que não. Mas vem cá: não poderia fazer isso com dinheiro de outras contas?

Acompanhe comigo o raciocínio: se o governo federal já foi condenado a pagar os créditos reclamados então os valores todos não são mais dele. E se não pertencem ao erário público qualquer uso que não seja a destinação aos seus donos deve ser considerado crime.

Ou não?

Estaria politicamente correto o ato administrativo que faria o que bem quisesse com o que lhe pertence, mas... Vamos e venhamos as decisões judiciais não teriam o poder de transferir a propriedade – o domínio - desse dinheiro dos cofres públicos aos credores?

Em outras palavras o dono do lençol descobriria os santos que quisesse e cobriria outros tantos, a seu bel prazer. Mas se o lençol já não for mais da pessoa, qualquer mexida seria ilegítima.

Para Santo Agostinho justiça é Dar a Cada Um O Que É Seu. Estaria o governo do senhor Jair Bolsonaro fazendo justiça quando, tirando de alguém para dar a outrem, pretende reeleger-se?

Se fazer justiça é respeitar o direito e abster-se de qualquer ação que perturbe o equilíbrio social, então essas ações governamentais são extremamente injustas.

A paz é fruto da justiça. Se a pessoa não entende isso, com o devido respeito, pode pegar o seu boné e ir embora.

 

 

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Setembro 08, 2021

Fernando Zocca

 

O que fez Donald Trump nos Estados Unidos, quando incitou a população a atacar o congresso nacional, quer Bolsonaro fazer aqui no Brasil instigando os ataques ao STF.

São atitudes de quem se vê sem razão e argumentos suficientes para contestar as razões dos ministros do STF.

Esse comportamento do Bolsonaro reflete a máxima de que a violência é o argumento de quem não tem mais com o que argumentar.

Em outras palavras essas atitudes tanto do então presidente norte-americano quando as atuais do Sr. Bolsonaro assemelham-se ao daquele jogador de xadrez, que, na iminência da derrota, espanca o tabuleiro jogando as peças todas no chão.

A história política brasileira está repleta de casos similares. Não é preciso dizer muito para lembrar-mos de 1930 quando Getúlio Vargas, tendo perdido as eleições para Julio Prestes, simplesmente arregimentou tropas favoráveis (de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul), vindo ao Rio de Janeiro, depondo Washington Luis (que estava no fim do mandato) e, por meio da “manu militari”, força das armas, impediu a posse do recém eleito (Júlio Prestes), assumindo, logo depois, ele mesmo o cargo de ditador do Brasil.

Devemos lembrar que o cenário mundial na década de 1930 era bem diferente do atual. Estavam em ascensão, naquele momento na Europa o fascismo, o nazismo e no Japão a política que levou a formar o então conhecido “Eixo”.

Com Franco na Espanha, Salazar em Portugal, Benito Mussolini na Itália, Adolf Hitler na Alemanha e Hiroito no Japão, desenvolver-se-iam políticas anticomunistas que resultaram, como todos sabemos, na Segunda Guerra mundial e todas as suas consequências.

Certamente existem no imaginário dos saudosistas do regime militar, das políticas de Getúlio Vargas, as lembranças da criação da Carteira de Trabalho e Previdência Social, das  Consolidação das Leis do Trabalho e outros institutos que o ajudaram a manter-se no poder por 15 anos.

Na pauta também a rejeição ferrenha contra as políticas representadas pela esquerda brasileira.

Com a evolução da tecnologia, mudanças nas relações do trabalho (empregador/empregado) – capitalista- trabalhador, o surgimento do trabalho em casa, muito daquela antiga legislação já não faz mais sentido hoje em dia.

Em decorrência da tomada abrupta do poder em 1930 houve em 1932, uma espécie de revanche, em que os paulistas, buscando o retorno dos investimentos na campanha de Julio Prestes, propuseram a revolução sob o pretexto da necessidade duma constituição.

Os acontecimentos dos momentos presentes, mais a fortíssima rejeição contra a esquerda (provocada pelos alardes da imprensa dos supostos delitos administrativos, nunca provados) colocam a nação brasileira na situação semelhante a do passado.

Se os governos estrangeiros apoiariam as ações de Vargas em 1930, hoje já não se pode dizer o mesmo.

Entretanto uma conflagração entre partidários nacionais, aliados ou não, com forças internacionais, não deixaria de causar estragos imensos, danos materiais e atrasos no já tão atrasado desenvolvimento, tanto do povo quanto das instituições brasileiras.

Julho 27, 2021

Fernando Zocca

 

1.

 

Rosinha quando adolescente vadiava pelas ruas quase desertas do bairro.

Ela gostava de caminhar sozinha, olhando para as fachadas das casas, pensando sobre as cores com que eram pintadas e, se podia, parava para ouvir as conversas que vinham dos seus interiores.

Não era incomum levar sustos imensos quando, buscando o mais tênue vibrar do lar conturbado, estacionava distraída defronte as residências donde vinham discussões, queixas, choros e rangeres de dentes, e arrepiava-se toda com os latidos ensurdecedores dos cães que, de surpresa, se aproximavam latindo.

Mas naquela tarde ensolarada, a mocinha caminhou, depois de desobedecer a mãe, que a mandara trabalhar na coleta do lixo reciclável, indo parar num terreno em que algumas pessoas cercaram com arames grossos, mourões resistentes pretendendo fazer ali uma espécie de rodeio.

Rosinha foi entrando até o meio do local cercado e ia transpô-lo todo quando, de repente um enorme cão preto avançou sobre ela latindo e rosnando.

A menina assustou-se voltou-se para trás, mas não teve tempo de escapar do ataque.

O bicho furioso pulou na garota tendo-lhe mordido a barriga, na altura da cintura, perto do umbigo.

Gritando mais por causa do susto do que pela dor da dentada, ela saiu correndo, só parando quando chegava perto da sua casa.

Passou pelo estacionamento de carros velhos, e livrando-se das pilhas de papelão juntados por sua mãe, defronte a porta da casa, ela foi logo avisando que um cachorro tinha-lhe mordido.

O pai da Rosinha que passava a maior parte do seu dia mais bêbado do que gambá nos dias de jogo do Corinthians, assustou-se com o que a menina falava.

- Mas como foi isso? – perguntou o velhote que a olhava com aqueles olhos mais irritados e vermelhos que os sinais de pare dos semáforos.

- Foi um cachorro que avançou em mim e me mordeu – respondeu Rosinha.

- Mas e se ele estiver com raiva? Você vai ficar doente. Onde foi que te mordeu?

- Aqui pai, ó – respondeu Rosinha levantando a camiseta, mostrando-lhe a barriga donde saia gotículas de sangue.

- Ah, “mai” vá “sabê” se esse cachorro “tava” doente! Onde é esse lugar?

Rosinha explicou ao pai que, encafifado com a possibilidade do cão agressor estar contaminado com o vírus da raiva, saiu nervoso arrastando a menina por um braço, intencionando saber da saúde do cachorro agressor. 

Durante o trajeto Genildo suava e falava no perigo que a filha estaria passando. Afinal o cão cruel não lhe dera chance de escapar sem nenhuma mordidinha que fosse.

- Louco, esse cachorro está louco? E agora onde vamos pra curar essa doença? Como a gente faz, com quem podemos conversar sobre essa agressão?

Rosinha suava frio e precisava dar dois passos para parear, manter-se ao lado do pai que, com passadas longas, ia à frente arrastando a mocinha.

Depois de uma dezena de longos minutos intermináveis, pai e filha estavam no local onde acontecera a agressão.

- É ali, pai. Olha lá o cachorro, e aquele viadinho que esta do lado deve ser o dono da encrenca.

A pessoa dona do lugar, ao ver o casal que se aproximava adiantou-se perguntando o que desejavam.

- Essa menina aqui é minha filha e ela foi mordida por esse seu cachorro. Eu quero saber se ele está doente, com raiva. Se tiver preciso levar minha filha ao médico pra tomar aquela injeção. Sabe como é? – explicou todo afoito o Genildo.

- Imagina que meu cachorro está doente? Gente... Pode isso? – Com o animal peludo nos braços, Enrico afagava a fera que rosnava pra menina.

- Bom, então posso ficar sossegado? Essa cria do demônio está sã? Olha o senhor me fala a verdade porque então vou procurar ajuda médica.

- Gente... O que é isso? – então ocês acham que eu não teria cuidado com o meu pet? Olha que coisa mais linda, mais fofa. E que pelos. Veja... Gente um cão doente pode ser tão bonito assim?

Pai e filha foram saindo deixando Enrico de pé no centro do círculo cercado por arames. Quando estavam há alguma distância Genildo virou-se para trás dizendo em voz alta:

- Moço, saiba que não existe cachorro bom de dono ruim e nem cachorro ruim de dono bom. Com certeza, se essa cria do capeta é agressora você também pode ser. Mantenha preso esse animal se não ele pode atacar as pessoas que passam desavisadas na rua.

2.

Passados 15 ou 16 anos Rosinha, da escola que frequentara, passou a trabalhar no sindicato dos coletores de lixo reciclável, onde tivera contato com as teorias sociológicas e políticas. Seu pai falecera de cirrose hepática e a mãe, com artrose nos joelhos, por causa do peso do lixo que costumava carregar pelas ruas, já não tinha mais aquele vigor exuberante para o trabalho.

- Mãe, a senhora fique sossegada que eu ajudo nas despesas. Estou ganhando bem como secretária do presidente do sindicato e meu salário está mais firme que falo de noivo. Fique bem. Deixa comigo – Rosinha tranquilizara a mãe, mas não dissera a ela que o presidente, a diretoria, e a maioria dos associados do sindicato apoiavam a ideia de lançá-la como vereadora nas próximas eleições.

- Verdade isso Rosinha? Você vai se meter na política? – quis saber a velhinha, já alquebrada, depois de ouvir o zunzum da vizinhança que comentava o assunto.

- Isso é coisa do presidente do sindicato, o Tonho Zelenkoy que precisa de gente que sirva mais de cabo eleitoral do que de vereador de verdade no partido. Mas eu vou concorrer sim.

- Menina, saiba de uma coisa: o signo da república é o quás-quás-quás, o estelionato, o zunzum, o equívoco, o engodo, o 171 político, o drible. A gente sabe como é política. Não foram uma ou duas vezes que ocorreram golpes militares motivados pelas fraudes nas atas, nas eleições. Isso começou com a deposição de Pedro II e prosseguiu com a política do café com leite, da república velha (1899-1930) do Estado Novo (1930-1945) ou Era Vargas até os dias atuais. Quem não aplica essas estratégias não tem como chegar ao topo – disse com segurança Tonho Zelenkoy à Rosinha ao ofertar-lhe um sanduba imenso, na cozinha do sindicado, depois do expediente, quando todos os demais funcionários saíram.

3.

É meu amigo leitor quando bem trabalhadas as intenções concretizam-se: Rosinha foi eleita.

No segundo ano do seu mandato, quando já se incomodava com os comentários da oposição que afirmava, aos quatro ventos, que até aquele momento ela não se dignara a desalojar a busanfa gorda da cadeira legislativa pra emitir um mísero discurso, contra ou a favor do governo, Rosinha casou-se.

- E aí, como é o sortudo? – inquiriu Tonho Zelenkoy o presidente do sindicado, também do partido e agora presidente da empresa fornecedora de água para a cidade.

- Ah, Tonho... Romeu, meu marido, é um moço novo. Magrinho, mas vai engordar. Gente boa. Filho de um lanternista que dizia que alegria de funileiro eram as trombadas das viaturas, cujos consertos, mantinham os ganhos da oficina.

Já no final do seu mandato umas reportagens nas rádios, nos jornais da cidade mostravam Rosinha com ferimentos no rosto, pontos no queixo, olhos roxos, dentes quebrados e ferimentos nas mãos e braços.

- Mas o que foi isso Rosinha, minha filha? – quis saber a mãezinha que se aproximava com o auxilio de um andador.

- Mãe, é o seguinte: como a senhora sabe eu e o Romeu dormimos em quartos separados. Ele ronca muito. Insuportável. Então numa manhã – agora não me lembro qual – eu amanheci assim, vá vendo... Cheia de machucados, parecendo que levei uma sova. Mas eu não sei como foi que isso aconteceu. Fiz Raio-X das costelas, das pernas e o Romeu que é também enfermeiro providenciou esses primeiros curativos. Estou bem.

“A polícia da cidade já investiga esses fatos. Eu não sei de nada, não me lembro de nada.”

Os murmúrios nos bairros, nas praças, na camara municipal, na prefeitura, no Fórum, nos clubes sociais, nos jornais e nas rádios, indicavam que Tonhão Zelenkoy sabedor de que sua vereadora dormia em quarto distante do marido, convencendo Rosinha de que ficar sem calor humano, durante noites e noites seguidas, seria prejudicial ao seu desempenho no legislativo, se prontificou a aquecer seu coração e sua alma com o corpanzil que o formava.

O povo comentava que, numa noite de calor muito intenso, Romeu, não tendo como conciliar o sono entrou repentinamente no quarto da Rosinha proporcionando, desta forma, o maior flagra envolvendo pessoas importantes, que a cidade já presenciara em toda sua história.

Tonhão mais esperto que coelho ao presenciar a cachorrada farejante, safou-se correndo nu pela rua, com a cueca, a calça, a camisa e os sapatos amarrotados contra o peito.

Romeu sentiu que desmaiaria. Mas lembrando-se da sua madrasta que lhe afirmava, a todo o momento, durante sua adolescência, ser ele um homem com ó maiúsculo, depois de ouvir da Rosinha a palavra louco, desandou a “embolachar” a vereadora. Bateu tanto, tendo inclusive, corrido com uma faca atrás dela, que a infeliz, assustadíssima, só foi pensar na Lei Maria da Penha, semanas depois.

Tonhão Zelenkoy, de longe, ao celular orientava a vereadora:

- Olha, não complica. Diz que você caiu da bicicleta, da moto, da cama, sei lá o que, mas não acusa o personagem. “Deixa ele” calmo; faz ingerir calmantes. O jogo continua. A “gente neném vamos ser felizes”.

Nos dias seguintes Rosinha, segurando firmemente a mão do esposo, tendo convocado os jornalistas para entrevistas coletivas afirmava sob os flashes dos fotógrafos:

- Pessoal, não sei como isso aconteceu. De repente estou toda embarangada e horrível. Esquisito isso não é?

Sim, meu amigo leitor, esquisito, muito esquisito, esquisitíssimo.

  

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Março 30, 2021

Fernando Zocca

 

 

As pessoas não podem mais negar a importância do desenvolvimento dos produtos industriais, das invenções, das inovações tecnológicas, que são frutos da ciência, na vida moderna.

Então, veja bem, do conhecimento científico surge a tecnologia, que podemos definir como sendo a aplicação técnica das descobertas científicas na indústria e no comércio, modificando consequentemente, na maioria das vezes, para melhor, a vida humana.

Desta forma, quem pode negar os benefícios produzidos pelos meios de transporte modernos como os navios, trens, automóveis, e aviões?

Não haveria quem negasse a importância, a utilidade, os benefícios, os confortos trazidos à comunicação, ao comércio, à indústria, à prestação de serviços, desse tal computador, e da rede que os liga todos, sem que esse alguém seja considerado indiferente, fora do contexto, passível até de ser classificado como portador de mentalidade constante no rol das afecções psicóticas, existentes nos livros de psicopatologia e psiquiatria.

As formas de fazer, produzir música e seu deleite, modificaram sensivelmente desde os tempos que Davi fazia seus próprios instrumentos até os dias atuais, quando a música eletrônica assumiu o poder, estando na berlinda, principalmente nas festas dos finais de semana.

Por falar em festa lembro-me que, há muito tempo atrás, tive como vizinha uma república de estudantes.

Num dos finais de semana eu percebi, logo cedo, a movimentação pouco frequente da turma residente ali.

É que haveria uma festa de recepção aos calouros e calouras admitidas na faculdade, logo depois dos exames vestibulares.

Chegaram de forma ruidosa e ostensivamente, durante o decorrer da tarde, mesas e cadeiras portáteis de plástico, caixas e mais caixas de cerveja, rum, uísque, energéticos e, também de um jeito muito mais discreto, alguns pequenos tijolos compactos da Cannabis Sativa (segundo alguns vegetação fruto das experiências particulares e cultivo, duns veteranos durante os últimos anos do curso).

Com o cenário todo preparado pela presidência e diretoria da república, logo por volta das 20 horas, também conhecida como oito da noite, a multidão de estudantes começou a chegar.

A princípio formavam pequenas rodas, agrupamentos entre os que se conheciam, ou tinham algo em comum.

O som de potência respeitável, daquela capaz de vibrar as vidraças da vizinhança, fez o pessoal sentir que tinha que botar mais força no falar, sob pena de ter sua comunicação com o vizinho, prejudicada.

Luiza e Elvira chegaram juntas manipulando seus respectivos celulares. Pararam no umbral da porta da sala onde o pessoal consumia, cantava e dançava. Elas olharam-se resolvendo aprofundarem-se na diversão. Juntaram-se a Daniela e Carol que, curtindo o som da balada, chacoalhavam-se no centro do ambiente.  

No meio do auê principiou-se a sentir os odores da fumaça dos “baseados” que se multiplicavam entre os consumidores mais despreocupados com a saúde; foi quando então Elvira perguntou à Luiza:

- Neguinha, a festa vai até o dia raiar. Do jeito que estou vendo a situação, com esse consumo todo, ninguém sabe o que pode acontecer até amanhã cedo. Se você tiver que escolher entre perder, nesta noite, o celular ou o cabaço o que você escolheria?

- O cabaço, é claro.

Foi assim, meus amigos, minhas amigas e senhoras donas de casa que os festeiros, no dia seguinte, logo pela manhã, chegaram a suas casas com todos os pertences levados consigo para a festa.

Provaram ainda a relevância, a importância, para as pessoas dos tempos atuais, dessa tal invenção denominada telefone celular.

 

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Março 20, 2021

Fernando Zocca

 

máquina de cosura.jpg

 

Numa ocasião quando Marina Baldwin era ainda muito menina, (ela devia ter uns nove ou 10 anos) logo no início dos anos 1960, na cozinha da sua casa de esquina, sentada à mesa com seus irmãos mais novos Zéquito e Revina Célio uma pequena pendenga surgiu.

Marina disputava a atenção e companhia do seu irmão Zéquito com a irmã Revina:

- Mas não é mesmo que o papai tem sido bruto com a mamãe Zéquito?

Revina intervindo, antes que Zéquito respondesse se adiantou dizendo:

- O papai é muito legal com a mamãe. Ele não é aquele tonto que não sabe nem mexer com a panela de pressão como umas e outras que quando põem a mão a coisa explode fazendo voar feijão pra todo lado. Mas veja como ficaram as telhas deste telhado da cozinha. Se tivesse forro, teria tudo vindo abaixo.

Então Zéquito falou:

- Sim. É verdade o papai não é o retardado que tem medo de limpar os peixes. Ele manda ver mesmo. A peixeira dele é fincuda.

- Ah, mas ocês não gostam mesmo de mim. Eu fico triste – choramingou Marina. Por que Revina você não dorme comigo na minha cama e prefere dormir com o Zéquito.

- Porque ele tem pinto – respondeu Revina.

Marina sentiu seu rosto avermelhar-se. Uma raiva fortíssima tomou conta de suas emoções. Quase se descontrolou. Mas não fugiu à luta:

- Ah, vá, vá, vá... Com esse lambarizinho descamado aí, até parece. O papai tem um dourado enorme...

- Marina, você é uma tonta. Ocê já viu o dourado do papai? – perguntou Zéquito.

- É verdade. Tontíssima – completou Revina.

Marina levantou-se totalmente magoada. À noite revirava na cama remoendo os pensamentos. Mas tomara uma decisão: arrumaria um emprego pra sair logo daquela casa em que ninguém gostava dela.

No dia seguinte, na vizinhança encontrou-se com um baiano arretado, pedreiro de respeito, que lhe indicou uma oficina de costura de uma tia sua.

Os primeiros serviços da mocinha, que se considerava enjeitada, foram os mais humildes, ou seja, seu papel principal era a varrição do chão.  

Meses mais tarde a moça passou a tomar contato com as linhas, os tecidos, os cortes, os cerzidos e as costuras. Ela aprendeu rapidamente a fazer camisas, camisetas, shorts, vestidos e calças.

Ganhando segurança sentiu a Marina que poderia comercializar aqueles produtos todos. Mas como não tinha dinheiro suficiente para instituir sua loja própria, empregou-se na loja do vizinho Salvapain.

Acontece que o movimento no bairro era escasso. Não havia freguesia suficiente para manter um fluxo satisfatório de caixa. Então Marina indo ao centro da cidade contatou uma senhora que há muito tempo vivia do comércio de roupas, tecidos, linhas e agulhas de costura.

- Será um prazer enorme ter você como aprendiz na minha loja de confecções Marina, minha querida – disse dona Clotilde afagando os cabelos longos da moça.

No dia seguinte quando chegou, à tardezinha, em casa, Marina parou e, distraindo-se ao ver seu pai que limpava peixes no tanque de lavar roupas do quintal, assustou-se quando Revina a abordou de forma abrupta.

- Nossa! O           que é isso menina? Uma trombada? Quer me quebrar a perna, sua louca?

- O seu Elmo Osterro veio aqui em casa. Perguntou por você. Quer que vá falar com ele amanhã cedo.

Marina lembrou-se da dona Clotilde que a tratara tão bem. Mas no dia seguinte foi até a loja do Elmo Osterro.

- Trabalhe aqui comigo. Eu lhe pago um salário mínimo mais a comissão das vendas que fizer.

Duas semanas depois, quando Marina saia da loja de armarinhos do Sr.Osterro foi abordada por dona Clotilde que indignada perguntou:

- Por que você ficou com Osterro, Marina, meu bem? Eu não lhe agradei?

- Ele tem pinto dona Clotilde, tem pinto. Só isso.

Na loja do Osterro Marina foi, durante anos, a melhor vendedora de camisas, camisetas, calças, vestidos, cuecas, calcinhas e sutiãs da paróquia, até que um dia depois de fundar a primeira associação das costureiras da cidade tornou-se sua honorável presidente que, no futuro, presidiria também o sindicato da categoria.

 

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Fevereiro 06, 2021

Fernando Zocca

os monstros ivonne de carlo.jpg

 

Marina Baldwin querendo mostrar poder, ascendência sobre os pagãos incréus, não titubeava em invadir as casas vizinhas, violar cadeados, fechaduras, e dizer pra todas as testemunhas:

- Conosco ninguém podemos.

Baldwin detestava a berlinda; pra ela quanto mais escondida, às ocultas, nas sombras, era melhor. Aos retardados que a rodeavam ela gostava de explicar as coisas como se fossem todas sobrenaturais. Na verdade Baldwin não tinha poder nenhum; ela era mestre na enganação; mãe da mentira e catedrática na simulação.

O número expressivo, a quantidade de “beiços caídos”, impressionados com as “mágicas” que ela fazia significava o sucesso que ela tinha pra impressionar e manipular os tontinhos dependentes.

Ou seja: quanto maior a quantidade de gente impressionada com os fenômenos praticados por ela, maior seria seu capital de convicção, de credibilidade, de convencimento dos do entorno.

Zé Laburka com a crônica infecção do nervo ciático (pra ele aziático), quase que impossibilitado de se locomover, teimosamente insistindo em andar pela calçada, não se importava de fazê-lo, mesmo que fosse esfregando-se pelas paredes.

O acumulo cada vez maior de maus-encarados pelas ruas do bairro não a deixava tão apreensiva. Ela considerava-se imune às maldades do populacho. Marina recordava-se de um comentário sobre si que ouvira na fila do supermercado:

- É parda. Pardinha, nascida à tardinha, logo depois do fim da linha...

“Mas olha quanta insolência” - pensara, na ocasião, a Marina muito sentida com o que ouvira. E depois murmurando entredentes:

- Com esses cretinos só no bofete,  mesmo.

Marina era fã incondicional da famosa atriz canadense Ivonne De Carlo (nascida Margarette Ivvone Middleton) em Vancouver, Canadá no dia 01 de setembro de 1922 e naturalizada norte-americana. Marina Baldwin sabia também que Ivvone de Carlo destacara-se, dentre outras produções cinematográficas, com a série Os Monstros (foto) cujos personagens e atores eram os seguintes: Fred Gwynne  - Herman; Yvonne De Carlo – Lily; Al Lewis – Vovô; Beverley Owen - Marilyn (até o episódio 13); Pat Priest - Marilyn (episódio 14 ao 70); Butch Patrick – Eddie.

- Se eu não eleger prefeitos, deputados e vereadores com as mágicas que sei fazer, então, minha amiga sei que chegou a hora de me aposentar – garantiu Marina Baldwin à sua comadre Zaíra Longarina, numa tarde, logo depois que ambas saíram do Lar dos Velhotes onde visitaram um antigo freguês de caderneta.

 

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Janeiro 20, 2021

Fernando Zocca

 

Então lá estava eu novamente na pista do parque do bairro Santa Cecília, naquela sexta-feira nublada, por volta das 7 da manhã.

A pista tem 6.400 metros e eu ainda com excesso de peso, sentindo as sequelas duma fratura na canela esquerda, resultado de um acidente criminoso no trânsito, manquitolando feito um cavalo velho, pensando na minha certidão de nascimento amarelecida, emitida em 1951, consegui, daquele dia, fazer o percurso todo – 10 voltas – em uma hora, mais ou menos.

Bom, se em 60 minutos percorro 6,4 km, em 2 horas faria (mantendo é claro, o ritmo constante), quase 12,8 km. Então para completar os 42,195 km que usualmente é a extensão de uma maratona, me faltariam (mais ou menos) 29,6 km.

Agora, se eu em 1 hora corro somente 6,4 km em quanto tempo completaria os 42,195 km?

Fazendo rapidamente os cálculos completaria o percurso de 42,195  km em mais de 7 horas!

Se a largada fosse às 7 da manhã eu chegaria ao final do percurso às duas da tarde.

 Vá vendo...

Considerando que o recorde da maratona é de 2:01:39 (duas horas, um minuto e trinta e nove segundos), conseguido pelo atleta queniano de 33 anos, Eliud Kipchose, na 45ª maratona de Berlim, em 25 de setembro de 2016...

Considerando também que se déssemos a largada juntos eu chegaria mais de 5 horas depois do campeão, podemos concluir então que eu não devo nem pensar em participar de maratonas... De jeito nenhum!

Mas deixando essas elucrubações pra depois, ao terminar o meu modesto percurso, parei para conversar com um conhecido que frequentou o Clube de Regatas situado à Rua Morais Barros, esquina com a Avenida Beira Rio, por volta de 1962.

Suado e mal cheiroso feito um gambá coringuento, mais ofegante e espantado que galgo no final da corrida, quando descobre que aquela coisa deslizante, pela pista de terra, não era coelho coisíssima nenhuma, ele foi me dizendo:

- Então hein cara! Quanto tempo que a gente não se vê, né?

- Pois é... Era tempo do iê-iê-iê, da Jovem Guarda na Record, Eu me lembro que naquela piscina... Lembra? Que frequentamos muito, você usava até uma máscara de mergulho pra apreciar a anatomia da mulherada por baixo dágua. É verdade ou mentira? – disse-lhe.

- Então... É verdade cara; tinha cada gatinha vestindo aqueles maiôs estampados que deixavam a gente meio que abilolados. É ou não é? Mas não era só a piscina que tinha lá. Havia um campo de futebol que ao invés de grama era coberto com areia. Ocê lembra?

- Claro que lembro. Joguei muita bola ali – confirmei.

- Numa ocasião eu e meus primos estávamos batendo uma bola ali e de repente chegou um grandalhão, um brutamontes filisteu que pegando a bola chutou-a com tanta força que me quebrou o punho – contou o esgotado atleta de fim de semana.

- Rapaz! É verdade isso? Eu não soube da história – informei.

- Então cara... Baita correria na secretaria do clube; chamaram um taxi, me levaram pra Santa Casa e depois da chamada redução, feita pelo doutor traumatologista, puseram-me um gesso envolvendo todo o antebraço direito.

- Nossa cara, que foda meu! – eu estava espantado.

- Então mano, depois de alguns anos, quando eu voltei a frequentar o clube o filisteu brutamontes tentou armar uma cilada pra mim. Ele deixou, no vestiário, um relógio numa situação que dava a ideia de que tinha sido perdido por alguém. Quando o peguei pensando em levar pra secretaria do clube o tal apareceu dizendo que eu estava furtando o objeto.

- Ô loco, meu, sério? – disse-lhe espantado.

- Só que quando ele se preparava para alardear o que seria uma tentativa de furto, apareceu um diretor do clube, que conhecendo de longa data o mau-caráter, “pagou-lhe o maior sapo”. Deu-lhe uma reprimenda, que até eu senti pena.

- Virgem santa, que história, cara. Eu não sabia disso. E olha que eu ia praticamente todos os dias ao clube – falei num tom de comiseração.

- Então... – ele continuou – eu não poderia imaginar o porquê do filisteu brutamontes tentar armar aquela cilada pra mim. Ele já tinha me quebrado o braço, agora vinha com aquela sacanagem?

- Você soube do motivo dele tentar te incriminar? – perguntei.

- O diretor do clube contou pro meu pai que o sacripanta não aguentando a pressão, causada pelo dano que cometeu, pensou, para o desencargo da consciência, armadilhar uma situação enganosa que justificasse a fratura, causada por ele, no meu braço.

- Mas que sujeito desgraçado! – concluí.

- Veja só: na mente dele, o dano que me provocou seria merecido, justo, bem feito, porque eu seria um ladrão, então tinha mesmo que ter o braço quebrado. Veja que ele era parente dum velhote barrigudo, pinguço tabagista, agressor de mulher que trabalhava como foguista na Estrada de Ferro Sorocabana. Um dia esse foguista levou a filha pra passear de trem. Colocou a menina na locomotiva, perto da fornalha. Daí saiu uma fagulha que entrou no olho da filha. Meu amigo, a inflamação deixou a menininha maluquinha da silva. E depois pra explicar pra mãe da criança, o pai inventou a lorota que foi o moleque vizinho que assoprou um cisco no olho da pobrezinha.

Eu percebendo que a conversa se prolongaria, e sentindo algumas dores mais fortes nas pernas resolvi me despedir daquele conhecido dizendo:

- Quanta patranha pra se livrar dos próprios erros, das culpas, salvar a própria pele hein?

- Nem me fale – respondeu-me caminhando em direção ao seu HD 20 Hyundai estacionado defronte a bica d´água.  

Novembro 20, 2020

Fernando Zocca

 

 

trincheiras.jpg

 

Mas que “mané” luta, trincheira? UFC, guerra? Como pretenderemos resolver problemas sociais com essa mentalidade para confronto, hostilizações?

Vou lhe dizer mais: se o PT, aqui em Piracicaba, com jactância, arrogância e soberba intentar lidar com os problemas da cidade terá assaz dificuldades mil.

- Chegou agora e já quer sentar na janelinha? – perguntou Romário, numa certa ocasião a um noviço que, vindo com a “bola cheia”, queria sobrepor-se aos que há muito tempo jogavam.

Será que os “companheiros” não perceberam os erros históricos e homéricos nessa trajetória de fracassos?

Em 1917 na Rússia depois de liquidar sumariamente a família imperial, defenestrar a religião, as igrejas e quase destruírem o mundo durante as ameaças da guerra fria, não notaram que o caminho não é esse?

Aqui no Brasil as ofensas e ameaças contra a imprensa tiveram o condão de arregimentar contra si um poder que não puderam suportar. Deu no que deu: impeachment da Dilma e prisão do Lula.

Não seria mais fácil, mais honesto, mais sincero, mais humilde facilitar a ocupação dos imóveis do programa “minha casa, minha vida” por essas pessoas que hoje vivem nos barracos na periferia, do que chamar autoridades pro embate?

Esse negócio de luta tem a ver com ringue, UFC, pancadaria, sangue e não serve como metáfora na tentativa de solução dos problemas de moradia de Piracicaba.

Trincheira? Que mané trincheira? A primeira Guerra Mundial que aconteceu na Europa entre 1914 a 1918 já terminou faz um tempão. Diga-se o mesmo da II Guerra que devastou a Europa e terminou, graças a Deus, em 1945.

Como solucionaremos então problemas atuais com arcabouços do século passado?

Se liga na matéria, mano.

Afinal qual gajo, me diga, qual gajo, teria como disposição, diante das dificuldades em resolver problemas angustiantes, maior ânimo pra dificultar ainda mais as coisas, se não fosse um “espírito de porco” novato?

Cremos que seremos mais úteis à sociedade se utilizarmos o tempo e o dinheiro que dispomos para encaminhar, facilitar e contribuir com a solução dos problemas e não criar mais empecilhos que embacem os vitrais e cristais das nossas humildes janelas.

 

 

 

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