A gente percebe a política em tudo; na medicina, por exemplo, quando numa unidade de urgência, é necessário escolher quem viverá ou morrerá; no futebol quando diante duma dúvida, se foi ou não gol válido, ou na administração pública, se houve ou não crime.
Em todos esses casos a escolha de uma das alternativas exclui a outra. A decisão tem maior relevância quando implica em consequências para uma, algumas, ou milhões de pessoas.
As decisões, nos três exemplos, tanto por uma opção, quanto por outra, ensejam críticas e elogios, aprovações e reprovações, aplausos e vaias.
Na escolha médica entre o jovem e o idoso, geralmente decide-se pelo jovem; entre a parturiente e o nascituro, o nascituro.
No futebol, entre um gol válido ou não, pela validade do tento. Na administração pública ou no direito penal, se o réu é culpado ou inocente, pela inocência.
Tudo isso faz parte das escolhas políticas nas decisões médicas, esportivas, administrativas e judiciais e não indicam que as prioridades sejam sempre consideradas nessas respectivas ordens.
Os motivadores – as intenções - entretanto, componentes e embasadoras das tais decisões, é que precisam também ser levados em conta.
No caso da escolha médica, a miríade de fatos relevantes pode fazer as ações tenderem para a escolha não usual, por exemplo.
Da mesma forma, durante uma partida de futebol, se a validação dum gol notoriamente inválido, coloca em vantagem o time pelo qual simpatiza o árbitro decisor, não haveria como contestá-lo dentro do campo.
Na administração pública ou no processo judicial, embora com todas as evidências de que o réu não cometeu o tal delito imputado na denúncia, mesmo com a certeza de que as práticas exercidas por ele eram usuais, não estando elas no rol das proibidas, mesmo assim, sua condenação não deixaria de se realizar.
Essas escolhas não significam, entretanto, que sejam justas.
Da mesma forma não eram justas as situações sociais – de um lado a miséria extrema e do outro a opulência ostensiva, extravagante - surgida a partir da Revolução Industrial, por volta de 1750.
Foi a encíclica Rerum Novarum publicada pelo Papa Leão XIII a 15 de maio de 1891 que a princípio buscou equilibrar os graves desníveis de riqueza quando aconselhava aos ricos que tudo o que lhes fosse, por exemplo, supérfluo, servisse às necessidades dos mais pobres.
Queremos crer, que não teria sido outro que o sentimento cristão, o motivador principal do presidente Obama quando, depois de cinco décadas, decidiu pelo reatamento das relações diplomáticas com Cuba.
Da mesma forma entendemos os motores da política da presidenta Dilma ao propiciar a construção de um porto marítimo naquele país.
Não podemos conceber como estando fora dos ditames da referida encíclica a política social (Minha Casa, Minha Vida, Bolsa Escola, Mais Médicos, Isenções Fiscais às Indústrias) adotada pelo PT.
Sem o povo, a aquiescência popular, não se governa. Não haveria paz, que é fruto da justiça.
Quando sabemos que a verdadeira motivação do pedido de impeachment da presidenta Dilma não foi o cometimento de crime algum, mas um ato de vingança; quando sabemos que a interrupção do curso do mandato popular é ocasionada por motivos alheios às condutas do seu titular; quando sabemos que o presidente em exercício não pode deliberar ou decidir de outras formas que não sejam as mesmas escolhidas pelo eleito pelo voto popular; ao escolhermos pela sua deposição, contribuiremos para a instalação da desordem generalizada, o descrédito total e a ingovernabilidade do país.
Que se possibilite a volta ao cargo do seu legítimo detentor, que se lhe permita a chegada ao termo final do mandato com segurança e plenitude, quando então em 2018, possa o povo, em paz, escolher quem melhor governe.