Março 15, 2020
Fernando Zocca
- Seu Fernando! Sua pressão está muito alta! - gritou com voz esganiçada a enfermeira ao lado da minha cama.
Com um susto intenso despertei do cochilo quando então vi que ela portava uma seringa imensa com uma agulha finíssima e longa, prestes a enterrá-la no meu bracinho esquerdo.
Seu olhar era de quem estava alegre, pimpona, dando-me a impressão que se sentiria muito melhor com as minhas inevitáveis manifestações de dor.
- É claro que está alta. Com esses ferros todos fincados na perna seria esquisitíssimo se a pressão
estivesse normal - respondí-lhe mal humorado.
- Essa medicação é pra dor - explicou ela brandindo a seringa diante dos meus olhos.
Depois de injetar com força e muita rapidez o líquido na veia do braço esquerdo, por onde havia, há dias, um cateter permanentemente fixado com esparadrapo, ela, quase que gritando, com aquela voz agudíssima ordenou:
- Abra a boca! Põe a língua pra fora!
Obedientemente fiz o que me mandara quando então ela pôs um comprimidinho cor de rosa na língua ordenando-me em seguida:
- Não mastiga, nem engole. Deixa dissolver debaixo da língua.
O ferimento doía-me 24 horas por dia. Não houve um momento sequer, durante os 10 dias de internação, em que deixei de sentir as dores do machucado.
Passados mais de 7 meses após a colisão, caminhadas vagarosas, em dias alternados, no Parque do Piracicamirim e no do Santa Cecília, substituem, para o gáudio da patuléia odienta, as 10 voltas diárias que eu fazia em trote brando, tanto num quando noutro parque.
- Não foi acidente! - afiançou-me um amigo.
- Você acha que foi de propósito? - perguntei sentindo a dúvida.
- E claro! Você esta cercado de idiotas favoráveis a politica corrupta do executivo e tem a coragem de não desmerecer a probidade, a honradez? Ora faça-me o favor! Você teve sorte de não ter levado uma rajada como a Marielle. Lembra da Marielle Franco? Então... Fica quieto! Os retardados não sabem, não conseguem fazer o que você faz, por isso, para eles, é impossível responder no mesmo nível, nos mesmos termos; então eles usam a agressividade, a violência do irracional, dos insanos criminosos que sempre foram.
Depois desta arenga prometi que ficaria quieto pensando em deixar para o ministério público e ao judiciário as investigações, julgamentos e as justas condenações tanto do delinquente atropelador quanto dos lesadores das finanças publicas. Isto é se não forem eles - os representantes dessas instituições - permeáveis ao aporte das altas, frequentes e gordas somas dos corruptores.