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O Prato do Dia

O Prato do Dia

Outubro 11, 2021

Fernando Zocca

 

 

No cafofo de Donizete Pimenta e Dani Arruela, logo ao anoitecer, daquele domingão de outubro, foram chegando devagarinho, sem muita estrepolia, Célio Justinho, e sua concubina Luisa Fernanda, pra mais uma folie a deux, arraigada na patota há muito e muito tempo.

Luiza Fernanda, a gerente bancária tão antiga quanto as caravelas de Pedro II, considerando-se a criatura mais influente que o Faustão, durante o seu programa domingueiro, portando enorme quantidade de Pen Drives contentores de centenas de gravações musicais, desembarcou do seu Ford preto defronte a casa do Donizete pensando em alegrar aquele pessoal todo, há algumas horas reunido.

- Hoje, em que pese o fato de não termos nesta humilde residência, uma piscina supimpa, e nem uma churrasqueira profissional, nós faremos a reunião festiva com a finalidade de lembrarmos o saudoso Hein Hiquedemorais que, por gostar tanto dos churrascos de maminhas, chuletas, coxão mole, duro e palheta, foi parar naquele nosocômio, onde por algum tempo, submeteu-se às técnicas de desobstrução intestinal – disse solenemente Célio Justinho às pessoas que o assistiam desembarcar da viatura.

- Olha os fecalomas do vovô Hein Hiquedemorais eram tão sólidos que o pessoal da enfermagem pensou até em usar um novo equipamento recém inventado que se assemelhava a britadeira; era portátil e facilmente manuseável – comentou Luisa Fernanda completando as informações do maridão Célio Justinho.

- Gente, deixemos de lado os teretetes, os entretantos e principiemos logo tudo, pra que antes das duas da manhã, “a gente possamos” terminar essa bagaça – opinou Delsinho Espiroqueta ao coçar a virilha pensando no seu antigo, sincero e verdadeiro amor o delgado, magérrimo, feio e ranzinza Zé Laburka, o “turco” nascido na área de charque de Tupinambicas das Linhas.

- Lá na charqueada, meu amigo, se “agente fizéssemos” esse tipo de coisa, a vizinhança nos escorraçaria às pauladas – falou com voz grossa a vovó Bin Slave Latem quando encostava o seu Galaxie 69 defronte a casa do Donizete Pimenta. Ela desceu batendo três vezes a porta do calhambeque - Mas como estamos num trecho do bairro em que todo mundo fala e ninguém ouve, aproveitemos - finalizou a anciã.

- Ei vó, eu não sabia que a senhora viria – exclamou admirada Luisa Fernanda.

- Ah, neguinha, pra quem foi chefe de gabinete por anos e anos a fio daquele caquético energúmeno, uma foliazinha a deux a mais não faz mal.

- Vovozinha, é verdade que o Jarbas, o quase rei, aquele que ficou mais tempo na função de prefeito, que Pedro I na de imperador, deixou a vida política? – questionou Dani Arruela manipulando as latas vazias de cerveja, tirando-as duma caixa de papelão, colocando-as num saco plástico.    

- Ih, filhinha, nem me fale mais nessa criatura. A pessoa pintou e bordou, sacaneou a cidade toda com as fraudes nas licitações e agora, por meio dos seus quadrilheiros, quer aprovar uma lei federal que dificulta a condenação dos crimes contra a administração pública. Pode isso eleitor?

A ex-chefe de gabinete continuou:

- Gente deixemos de lado essa papagaiada toda e iniciemos logo a nossa sessão em homenagem ao grande e inesquecível Hein Hiquedemorais o velhote que, por causa dos estercoromas, precisou duma temporada na clinica de repouso.  

 - Só uma coisinha rápida: vovó tendo a senhora mais experiência que os engenheiros da NASA, responda agora aqui pra mim: essa sua viatura, foi mesmo adquirida do doutor Carneiro, o alienista que, na oitava década de vida, simulou a própria morte, alegando aos mais íntimos que desejava testemunhar, de longe, e no anonimato, os desenrolares das quizilas da cidade mais famosa do estado de São Tupinambos? – interrogou Zé Laburka.

- Sim essa minha condução foi mesmo comprada do professor doutor Carneiro meses antes da esposa dele anunciar a sua morte.

- Ai que chato, não? – comentou Donizete pensando no almoço que faria no dia seguinte.

- Gente... Gente... Vamos começar a função, já são dez horas – convocou Luisa Fernanda batendo palminhas como fazia seu amigo Gelino Ambrulhano, o professor-diretor de escola ao convocar, cheio de vigor, no pátio do recreio, os alunos para o início das aulas.

Então em homenagem ao Hein Hiquedemorais, aquele que tinha o intestino “preguiçoso”, o fandango foi até as duas horas da manhã, insento de queixas e reclamações.

 

* Folie a deux: Folie à deux, é um conjunto de sinais e sintomas de transtornos delirantes, duma sujeita psicótica, caracterizado pelo contágio dos tais delírios, a um ou mais sujeitos, com quem ela tem relacionamentos pessoais íntimos.

 

Setembro 12, 2021

Fernando Zocca

 

Terenzio Galesi.jpg

 

O edifício Terencio Galesi (foto), situado à Rua Prudente de Morais, 642/646, no princípio foi usado como armazém. Era atividade econômica muito comum, antes do advento dos supermercados.

Esse tipo de comércio tinha como semelhantes muitos outros, tanto na região central como nos bairros mais afastados da urbe.

Um desses estabelecimentos que marcou a infância de muita gente, hoje na terceira idade (quase todos gagá, por sinal), situava-se à Rua Governador Pedro de Toledo, esquina com a Ipiranga. Era o Armazém do Mário Moral.

Nesse imóvel antes funcionou um açougue, mas com a morte do titular, o prédio foi alugado e instalou-se um armazém, como o havido no edifício Terencio Galesi.

Logo depois que o armazém deixou de funcionar lá na Prudente de Morais, naquele edifício, instalou-se o jornal O Diário que era propriedade do senhor Cecílio Elias Neto.

Alguns dos herdeiros donos do prédio onde funcionou o Armazém do Sr. Mario Moral eram os De Lello, dentre eles o meu primo, hoje falecido, Arthemio De Lello que foi radialista na Rádio Difusora PRD6 e comerciante. Ele vendia queijos, salsichas, salames e mortadelas nas feiras livres, indo de uma a outra transportando toda sua mercadoria numa Kombi.

Tanto os De Lello quando os Elias tinham ascendentes comuns; então quem dissesse que Cecílio Elias Netto e Arthemio De Lello eram meio aparentados, primos distantes, não podia estar muito equivocado.

Dizem as más línguas, os beiços pequenos que, até hoje, depois de tanto tempo da falência de O Diário, ainda existem ex-funcionários com créditos trabalhistas a receber. Em sentido contrário afirmam outros que esses ex-trabalhadores, estando nas condições semelhantes às dos credores do governo federal que lhes deve as contas dos precatórios, não receberão nunca.  Never more.

Bom, pra resumir a novela, a exemplo do acontecido entre palestinos e judeus em 1948, (quando sob a tutela dos Estados Unidos e da ONU), Israel instalou-se no território palestino, meu pai, em 1954 (eu tinha 03 anos de idade), acomodou-se num dos imóveis que, juntamente com aquele em que fora açougue, passando depois a Armazém, fazia parte dos bens deixados pelo antigo proprietário.

Os descontentamentos e as frustrações entre os demais herdeiros, que também tinham direitos sobre as propriedades deixadas por meu avô, não foram muito diferentes dos sentidos pelos descendentes dos palestinos que viveram a ocupação de 1948 pelos israelenses.

E tome quizila, pendenga, diz-que-diz, ciladas, embustes e o escambau objetivando descontar nos filhos, menores de idade, do “judeu” invasor as frustrações que os daninhos não conseguiam dissolver ou sublimar por seus próprios méritos.

Com infância e adolescência completamente turbadas pelas interferências, muitas daquelas crianças se adultizaram iguais aos canarinhos nascidos e criados nas gaiolas que, diante da portinhola aberta da prisão, não sabem o que fazer.

Hoje em dia o Edifício Terencio Galesi pertence ao empresário Nelson Carrano Torres que ocupa também a área toda onde antes era o Clube de Regatas de Piracicaba, na esquina da Rua Morais Barros com a Avenida Beira Rio.

Dos estatutos do Clube de Regatas de Piracicaba constava que os seus imóveis pertenciam aos sócios sendo, desta forma inalienáveis. Mas, porém, entretanto, uma presidência dribladora conseguiu transformar o que era de propriedade coletiva em simples imóvel do tal empreendedor de sucesso.  

Junho 24, 2021

Fernando Zocca

 

Eu sou chique, bem! – exclamou Marina Baldwin ao pegar a cópia dos estatutos da sua recém-criada A. A. M. T. (Associação das Atropeladoras de Motociclistas de Tupinambicas das Linhas).

- Sim, mas vai devagar preclara pessoa. Eu falei que a senhora precisava ter mais paciência. Não adianta se irritar com a demora decorrente da burocracia – respondeu John Charles Carcanhádigrilis o advogadão que acompanhara os trâmites da papelada no cartório de registro.

- Ai que chique. Agora vou reunir todas as mocréias embarangadas ou não, responsáveis pelo atropelamento dos motociclistas nesta cidade – exultou Marina.

- Antes que a senhora instale uma sede própria, contrate funcionárias e anuncie ao povo a constituição desta nova entidade pública de direito privado, cuja finalidade é proporcionar apoio mútuo entre as desmioladas, insanas e demenciadas motoristas lesadoras das pessoas condutoras de motocicletas, passe-me para cá os honorários combinados antes do início dos trabalhos, minha querida senhora.

- Vou pagar com cartão. O senhor tem a maquininha?

- É débito ou crédito, ilustre cliente desde os tempos em que os famosos Roberto e Erasmo Carlos eram meninotes a correr pelas ruas de Cachoeiro de Itapemirim?

- É crédito seu doutor advogado, faz o favor – Marina estava feliz, alegre ante a perspectiva de poder papear com as meliantes praticantes dos mesmos crimes, até dar câimbras na língua, sobre as lesões e consequências, médicas, civis e criminais dos deslizes praticados no trânsito louco da cidade.

Carcanhádigrilis sacou do bolso do paletó uma “minizinha” oferecendo a fenda para que Marina introduzisse o seu cartão.

- Vai devagar com esse trem aí dona. Não vá me arrombar o instrumento.

- Ai, seu doutor, eu sou delicadíssima. Veja como eu ponho, enfio, coloco... E então quebrou alguma coisa?

- Sem mais teretete ou tititi minha senhora; faça o favor de digitar a senha.

- Mas é isso mesmo, senhor doutor? Cinco salários mínimos pra esse servicinho que até um guardinha-mirim pode fazer? – perguntou Marina com o rosto vermelho feito um rubi.

- O que é combinado não é caro, minha senhora – defendeu o seu “cascalho” o advogadão mais barrigudo que sapo atormentado pela giardíase.

Efetuada a transação, Marina depois de chamar um motoboy pelo celular, engarupar no veículo e ordenar ao pobre trabalhador que fosse ao destino indicado, acenou tchauzinhos e assoprando beijinhos ao profissional aplicador do direito gritou para todos da rua ouvissem:

- Eu sou rica! Sou presidente da Associação das Atropeladoras de Motociclistas de Tupinambicas das Linhas.

Defronte ao cartório, uma aglomeração de pessoas, contrariando as orientações de combate ao Corona Vírus, assistia a comédia.

- É seu Zé Laburka, dona Dani Arruela, Luísa Fernanda, seu Célio Justinho e Donizete Pimenta: a situação é essa mesma. Manda quem pode, obedece quem tem juízo. Se não tiver sensatez esses doidos “tratoram” os ingênuos sem dó nem piedade – falou o vereador Laércio Bivisan quando passava ao lado da aglomeração com um Poodle debaixo do sovaco esquerdo.

 

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Fevereiro 12, 2021

Fernando Zocca

 

 

tabela do bicho.jpg

 

Lurdona Ton Inn ingressou majestaticamente com o narigão empinado, naquele princípio de tarde, no bar do Bafão e ajeitando a saia amarrotada pela posição no assento do carro, foi logo dizendo:

- Seu Bafão, por gentileza, quero uma dúzia de latas de cerveja Bramovsk, 500 gramas de mortadela Saudável, seis filõeszinhos, um maço de cigarros e 1 kg de carvão.

Bafão que mantendo um lápis pontiagudo preso na orelha direita, um pano de pratos no ombro esquerdo, alisando o avental sujo e surrado, na região da barriga abaulada, respondeu:

- Vai ter festa na sexta-feira dona Lú?

- ih, ocê sabe como é meu filho, né seu Bafo? Quem não conhece pensa que seja um sujeito importantíssimo, coisa e tal. Mas o bicho é cabeça dura que só vendo. Eu conheço a encrenca.

- Eu já sei, mais ou menos, como funciona a mente desse tipo. Ele puxou seu marido, o pai dele não foi? O tal do Hein Hiquedemorais?

- Não seu Bafo grande, ele segue as ordens da minha nora, a esposa dele a Luisa Fernanda. Conhece? Ela está sempre por aqui comprando cigarros. Ela é daquele tipo que basta saber que não pode fazer tal coisa que a peste vai lá e faz!

- Conheço sim, dona Lurdona ela foi gerente duma loja comercial, não era mesmo?

- Sim. Meu filho, o Célio Justinho, quando se aconchegou com essa tal de Luisa, era divorciado. Era pai de uma menininha, minha neta, linda que só vendo... Daí... Vá vendo... Essa (com o devido respeito) tranqueira se aproximou e “negativou” meu filho. Queria “cancelar o CPF” dele, dizendo que era um contabilista fajuto aplicador de golpes nas casas comerciais da cidade tendo prejudicado o comércio dela. Bom, papo vai, papo vem, no fim acabaram se enleando de tal forma que deu nisso que vemos agora. Mas tem um porém: o churrasco, nos finais de semana é mandatório, funcionando como reforço e firmação do compromisso deles.

- Nossa! Que esquisito dona Ton Inn! – comentou Bafão ao colocar sobre o balcão, defronte a freguesa, as coisas pedidas por ela.

Tirando o cartão do Bolsa Família da bolsa de couro de jacaré Ton Inn pediu a maquinazinha receptora. Finalizada a transação e concluída a tradição, Ton Inn se preparava para levar tudo para o carro quando de repente parou dizendo:

- Mas, me diga seu Bafo imenso, que bicho dá hoje?

Sem ter um palpite formado Bafão olhou para a rua no momento em que passava Zé Laburka com aquele seu passo de marreco, indo em direção ao bar da concorrência.

- Olha dona... Acho que vai dar veado – disse Bafão ao pensar “Aquele cretino vai saracotear no bar do Maçarico e passa aqui na frente só pra me provocar!” - Pode ser que mais tarde venha o 24. Joga no grupo que pode dar! É Batata.

Sentindo o peso das coisas adquiridas Ton Inn, viu do outro lado da calçada Dani Arruela acompanhada por duas outras pessoas.

“Nossa como desenvolveu o hoyo del culo daquela senhora. Era tão mirradinha, sujinha, fedidinha e olha como ficou, né gente?” – pensou Lurdona.

- Eu tenho a impressão que dê peru, mas sinto que hoje vem vaca, seu Bafão... – concluiu Lurdona Ton Inn.

- Quem sabe né dona?

- Até mais então seu Bafo imenso – despediu-se a velhota fazendo uma força danada pra colocar dentro do seu carrinho preto aquelas coisas todas que adquirira.

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Dezembro 30, 2019

Fernando Zocca

 

 

Roy Orbison II.jpg

 

- Seu Hein Hiquedemorais qual é a origem do seu nome? – indagou o curiosíssimo Van Grogue – no início da noite daquela sexta-feira, no salão de festas do condomínio, durante a reunião comemorativa de fim de ano.

- Alemão, italiano, português e Francês. Mas tem um pouco de baiano também – respondeu o contador idoso, limpando com a mão esquerda, o filete da baba que lhe escorria pelo canto direito da boca; no ambiente, num volume bastante elevado Roy Orbison (foto) entoava Oh, Pretty Woman.

- Quando o senhor acorda, logo de manhãzinha, também desperta atordoado, feito bebum que passou a noite inteira de Natal encachaçando-se? – quis saber Célio Justinho, o gerente bancário empolgado com a presença do amigão que não via há muito tempo.

- Você sabe que... Na verdade... Veja bem... Quando acordo estou tão zonzo, mesmo sem ter bebido nada, durante o dia anterior, que me atrapalho todo. Hoje por exemplo, qual não foi o meu susto, a minha surpresa, ao esbarrar no celular, fazendo-o precipitar-se dentro do penico. Olha só o prejuízo!

- Engraçado, quando seu Hein fala, ele geralmente não olha nos olhos do interlocutor – observou Delsinho Espiroqueta ao cutucar com o cotovelo esquerdo as costelas do Zé Laburka. Eles ocupavam uma mesa no centro do salão; bebericavam rabo de galo e cerveja.

- E lá sou eu cobra pra ficar olhando os olhos do sapo seu menino? – respondeu Hein que de longe pode ouvir o comentário do Delsinho delicado.

- Ai, que “veio” chato, meu Deus! – disse Delsinho bastante irritado com a fleuma do idoso.

- Mas... Como ia dizendo... – continuou Hein dirigindo-se ao Van Grogue – os cretinos de um quarteirão causam muitas desordens por terem dificuldades em distinguir coisas com alguns elementos comuns. Por exemplo: a deficiência intelectual não lhes permite diferenciar entre o Parque da Ressurreição (cemitério) e os parques da área de lazer. Isso gera muito desconforto e agitação nos tais. Alimentam os murmúrios dos insanos as informações colhidas no lixo dos vizinhos, as referências aos alimentos comprados no comércio local e nos acontecimentos do dia-a-dia das vítimas do assédio.

- Olha só, seu Hein: sua baba tem bolhas! Não é bonito isso? – observou Kol da Mumunha quando, junto com o Billy Verdina, passava ao lado do contabilista.

Em resposta Hein Hique emitiu um sonoro e vigoroso arroto.

- Bora lá no cantinho, fazê fuá? – sussurrou lascivamente Donizete Pimenta Aarder no ouvido da Luisa Fernanda que passava por perto com duas garrafas de cerveja.

- Você tem culpa no cartório, teu rabo está preso e seu destino não pode ser outro que o xilindró – rebateu Luisa ao passar rapidamente pelo importunador.

- Culpa? Que mané culpa? Nem no Otariado Geral da Comarca estou inscrito – defendeu-se Donizete.

Sob as vibrações de Dancing in the Dark, de Percy Faith, entraram juntos no salão João Carcanhá Di Grillis e a vovó Bim Latem (aquela que fora durante muitos anos, chefe de gabinete do quase imperador, hoje praticamente aposentado, Jarbas, o caquético).

Bim Latem pensou: “Ih, que festa chata, cafona; coisa de pobre” – logo em seguida, depois de sentar-se à mesa ao lado do Carcanhá Di Grillis, ela sacou da bolsa imensa um exemplar do Best-seller Barangas ao Sol, da escritora francesa Simone Bonvoyage iniciando a leitura.

- Minha nossa! Olha isso! – assustou-se o Fuinho Bigodudo que durante quase meio século exerceu o cargo eletivo (teoricamente transitório) de vereador na cidade.

O doutor Carneiro que não era colecionador de carros antigos, mas que também não deixava nunca seu Ford Galaxie 1969, depois de ter saído da garagem do prédio, onde com uma flanelinha polira o vetusto, entrando no salão de festas, foi logo dizendo:

- Mas essa gandaia de novo? Quem é que aguenta isso?

- Calma seu doutor Carneiro. É só uma comemoração de fim de ano. Logo tudo passa – tentou acalmá-lo Billy Rubina que em seguida, virando-se e apontando o indicador, para o controlador de som emendou:

- Som na caixa, maestro!

E dos alto-falantes soaram As Frenéticas com Abre Tuas Asas. Carneiro, completamente contrariado, tomando o elevador, indo pro seu apartamento pensou “Lorax, cadê o meu Lorax?”

Por volta das 22:15 o doutor advogado João Orlandino Pavaneoso, na condição de síndico administrador, entrando no salão e batendo palmas pra chamar sobre si a atenção dos festeiros foi anunciando com voz feminina:

- Olha a hora pessoal! Pelo regulamento do prédio, está na hora de findar a bagunça. Fim de festa! E não quero nem mais um pio. Quem manda é o síndico. E eu sou o síndico. Feliz ano novo pra vocês.

Ao afastar-se João Orlandino Pavaneoso em cochicho manifestava-se:

- Ih, Ih, Ih... Que festa furreca! Serve mais pra causar problemas do que diversão. A gente somos campeão do mundo, belo! Quebrar a perna desses cretinos não é a pior maldade que podemos fazer, ih, ih, ih.   

Luisa Fernanda e Célio Justinho, percebendo a dificuldade em encerrar a comemoração disseram em uníssono:

- Vamos parar gente. Vamos parar tudo antes que saia tiro.

E assim encerrou-se mais um ano naquele famoso bairro, daquela famosa cidade, do Estado de São Tupinambos.

 

 

Outubro 10, 2019

Fernando Zocca

 

 

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Na fila do caixa do supermercado, naquela manhã de quinta-feira estavam Hein Hiquedemorais, a vovô Bim Latem, que em tempos passados fora chefe de gabinete numa das inúmeras gestões do prefeito Jarbas (o caquético testudo), Luisa Fernanda, Célio Justinho, o professor e diretor de escola Gelino Ambrulhano e Lurdes Ton Inn.

A mais idosa era a vovô Bim Latem que já se aproximava do primeiro centenário. Ela trabalhara durante exatos cinco anos no Instituto de Aposentadoria, sem que lhe descontassem um único centavo dos salários que recebeu e, depois, viveu a desfrutar, até os dias atuais, os favores que lhe auferiam a legislação.

- Essa velhota é muito folgada – asseverou Gelino Ambrulhano quando, sob o peso da cesta onde mantinha as coisas que escolhera, via-a a matraquear com o Célio Justinho, proprietário da caminhonete Chevrolet D 20 branca, que circulava pela cidade, em péssimo estado de conservação.

- Folgada, fofoqueira, enxerida e cheia de vontade de cuidar da vida alheia. Essa carniça antiga não se emenda – respondeu Lurdes Ton Inn ajeitando os cabelos encaracolados. Ai que raiva!

- Vai... Vai tomar conta da sua vida ó Lurdona das quebradas. Todo mundo sabe que seu marido, esse decrépito contador, comedor de churrasco e bebedor de pinga, sofredor dos intestinos, tinha um esquema todo especial e particular com os banqueiros do bicho aqui da cidade. É por isso, e só por isso, que você, sua velhota baixinha, meliante amadora, fraca e enrustida conseguiu adquirir aquela casa onde até piscina no quintal tem – atacou Ambrulhano.

- Epa, epa, epaepa epa. Um instante maestro! – reagiu Luisa Fernanda – a vovó Bim Latem pode ser enxerida, desejar cuidar da vida dos vizinhos mais do que da dela, mas sempre foi uma chefa exemplar quando esteve trabalhando no Instituto de Aposentadoria. E a Lurdes Ton Inn é gente fina toda vida, meu filho, o que é isso?

- E essa fila que não anda? Não tem caixa pra atender o consumidor, caramba?- quis saber Hein Hique tentando secar um filete da saliva que lhe escorria pelo canto da boca.

- E por falar de caixa, você não sabe o que me contaram – sussurrou a vovô Bim Latem, eterna chefe de gabinete, para Luisa Fernanda – Você está vendo aquela moçoila ali, que está embrulhando a mercadoria, do outro lado?

- Sim – respondeu Luisa.

- Eu soube que o presidente da Associação Comercial e Industrial desta honradíssima cidade, o famoso hipnotista Celmo Osterro, quando procurado pelas mocinhas desejosas de emprego nas lojas da cidade, costumava fazê-las passar pela conhecida prova do sofá. Manja o teste do sofazão? – inquiriu ex-chefe de gabinete, ao dirigir um olhar maroto para Luisa.

- Verdade isso, saciadíssima e considerada velhota?

- Minha nossa! O Celmo Osterro era terrível. Ele tinha uma espécie de mezanino naquela sua loja de material elétrico, onde costumava receber também a todos aqueles a quem hipnotizava. E lá em cima você já viu, né neném? Depois que ele fechava a porta o banzé era rangente e chacoalhante. Mas todas as moçoilas que a ele recorreram tiveram suas vagas garantidas.  Nunca soube que os proprietários das lojas que vendiam roupas, situadas no centro da cidade, passaram por problemas causados pela falta de mão de obra.

- E essa fila, catso? Vai ou não vai? Anda ou não anda? – gritou o inquieto Hein Hiquedemorais, que naquela altura já depusera no chão, em frente aos seus pés, a cesta abarrotada de mercadoria.

- Virgem, eu não sabia disso Bim. É Verdade pletórica nona? – Luisa estava curiosa.

- É sim querida. E quando acontecia uma gravidez indesejada, aquele enfermeiro, lá na farmácia, fazia os trabalhos abortivos.

- Ai credo!

- Uma vez, minha filha, as coisas complicaram-se. A tentativa de aborto gerou hemorragia. Teve internação e no fim a mocinha morreu. E sabe quem defendeu o enfermeiro, aquele maligno, meliante que usava o sofá pra praticar os crimes?

- Não. Nem imagino vovó – garantiu Luisa.

- Foi o advogado barrigudo que não sai da padaria onde come esfirras, coxinhas, pizzas e bebe muito pingado todas as manhãs antes de começar os trabalhos no escritório, o famosíssimo João Carcanhá Di Grillis.

- Não sabia desse Carcanhá Di Grillis – Luisa estava curiosa.

- Ele foi até assessor jurídico do Jarbas o prefeito eterno desta cidade. Era só maracutáia que emergia diariamente na prefeitura, todas abafadas, é claro, pelo Zé Ciliodemorais o jornalista proprietário do Diário de Tupinambicas das Linhas.  Ocê sabe, minha filha que esse Carcanhá Di Grillis defendeu por muito tempo um tal de Charles Brochon, um funileiro da Vila Dependência que vivia processado por desmanche de carros furtados? Foram tantos os processos que Brochon acabou morrendo de tanto nervoso. Deixou dois filhos. Um deles acho que você conhece: é o Donizete Pimenta que é amasiado com a Dani Arruela. Já ouviu falar?

- Ai, vovó Bim Latem, gente muito pobre e besta eu geralmente não conheço. E se conheço, não dou muita trela – respondeu aristocraticamente Luisa Fernanda.

- É fogo! Fogo! Tá pegando fogo no depósito do supermercado. Corre! – gritava Van de Oliveira Grogue que de repente chegou à fila do caixa.

O desespero, a correria, a debandada geral fez com que Grogue tranquilamente passasse pelo caixa onde, com muita pompa sacou o dinheiro pra pagar a compra do dia: uma imensa garrafa de 51.

Outubro 04, 2019

Fernando Zocca

 

 

 

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Esperando ansiosamente, durante dias seguidos, pelo churrasco do fim de semana, Célio Justinho, logo depois que lhe nasceu a filha, buscava também, ardentemente, um nome legal pra recém-nada.

Quando Luisa Fernanda, embalando a recém-nascida, entrou de repente, na área do quintal, onde estava Célio, que naquela manhã de domingo já acendia a churrasqueira, dizendo “tai chegou o final de semana”, Célio “capturou” a ideia: sim, sua filha se chamaria Taíssa.

Lembrando da vintena de pessoas que apareciam frequentemente na sua média residência, objetivando saborear as carnes assadas, sobre o carvão em brasa, Célio quis saber:

- Será que vem muita gente?

Luisa caminhando pelo entorno da piscina, prestando mais atenção à sucção do seio que a garota fazia, aleatoriamente respondeu:

- Ah, com certeza, os mesmos mortos de fome, pinguços e irresponsáveis de sempre, não deixarão de aparecer.

Num susto desconfortável, resultou em Célio, absorto com a ardência do carvão, o soar da campanhinha da porta frontal.

- Vai ver quem é – gritou Luisa para a velha empregada Lurdes Ton Inn que varria lentamente o chão da sala.

A funcionária aproximou-se da porta de entrada e antes mesmo de abri-la ouviu o ruído de um alarme que zunia insistentemente na vizinhança.

- Surpresa! – disseram em uníssono Dani Arruela e Donizete Pimenta Aarder logo que viram a face da empregada pela porta semiaberta.

Quando a já idosa Lurdes Ton Inn viu as duas figuras lembrou-se dos seus antieméticos.

“Minha Nossa Senhora, vai ser mais um final de semana daqueles” – pensou ela.

- E aí, gatona? Vai ter maminha, chuleta e coxão duro hoje? – quis saber Pimenta entrando porta adentro.   

- O Célio está lá no fundo do quintal queimando o carvão – respondeu a Ton Inn fechando a porta depois que Arruela entrou.

- E aí, seu Célio? Tem carne boa pra fome nossa, de míseros mulambos? – indagou esfuziante o Pimenta Aarder.

- Se assentem – respondeu Célio apontando cadeiras ao redor das mesas pequenas dispostas ao lado da piscina.

Antes mesmo que pudessem iniciar uma conversação a campanhinha soou novamente.

E lá se foi Lurdes Ton Inn, balançando a pança, ver quem era. A velha senhora não esboçou surpresa quando, de esguelha, viu que eram Zé Laburka e Delsinho Espiroqueta. De mãos dadas eles esperavam a abertura completa da porta.

- A senhora não repare que estou com uma dor terrível no nervo “asiático”, aqui no lombo. Por isso uso essa espécie de colete – informou Laburka adentrando na sala. Ele puxava pela mão esquerda Delsinho que, disfarçadamente tentava assentar os cabelos crespos.

- Ai, não imagino que vou comer carne de novo. Ai que glória! – exclamava, aos sussurros, o Delsinho enquanto caminhava célere em direção ao quintal.

- Não gostaria, e nem vou dizer, é claro, que chegou quem não precisava vir – murmurou Célio quando viu os dois adentrando na área da piscina.

A dupla chegou-se perto do anfitrião que com um espeto açulava o carvão em brasa. Laburka enlaçou com seu braço direito o pescoço de Delsinho.

- Ai, Zé... Pelo amor... Esse sovaco peludo... Faz o favor... – queixou-se Espiroqueta esquivando-se.

- Mas me diga lá seu Zé: é verdade que o fim do mundo está acabando? - brincou Célio ao mesmo tempo em que, com um gomo inteiro de linguiça de porco, preso na ponta do espeto, oferecia aos visitantes.

Luiza Fernanda, que embalava a neném, aproximou-se do pessoal reunido e que já degustava as carnes assadas perguntou:

- Dani, é verdade que seu marido, esse Donizete Pimenta fez um curso de flanelinha espiritual?

- É verdade, bem – respondeu Arruela – é um curso à distância que objetiva o controle da mente. As abelhas do meu quarteirão tentam, durante, horas seguidas, dias, semanas e meses, controlar o ziriguidum do entorno. Mas, na maioria das vezes, os bombeiros aparecem e levam os enxames pra longe.

- Olha pelo que eu sei esses insetos não têm sossego, não descansam nunca, estão sempre alerta, por terem muito medo, receio de perder algo, de serem atacados ou prejudicados por alguém. Os psicólogos lá do lar dos velhinhos, onde costumo passar meus finais de semana, e férias, dizem que essa inquietação é muito própria de quem faz as coisas erradas, tipo lograr, furtar ou roubar as pessoas. Eu conheci um moço que antes de se casar começou a construir uma casa no quintal da mulher que seria a sua sogra. Só que apareceu o fiscal da prefeitura e autuou o jovem dizendo que aquele tipo de construção estava proibido. Entretanto o sujeito, diante dos olhares, da expectativa, da futura esposa e dos sogros, resolveu continuar a construção, mesmo sabendo que estava tudo errado e que teria um prejuízo material enorme e uma vergonha insuportável, se a prefeitura mandasse demolir tudo depois que a habitação estivesse pronta. O fato é que a situação de estresse foi tão intensa que o sujeito, mesmo depois de casado e morando naquele imóvel ilegal, desenvolveu um estado de alerta, de vigilância eterna tais, que moldou o modo de ser das demais pessoas e dos filhos que nasceram daquela união. Então a desordem, a litigância, o desassossego, teriam origem na própria inquietação do fundador daquela família – discursou abraçada com sua vassoura e com a devida ênfase a experiente Lurdes Ton Inn sob os olhares embasbacados dos convivas.

As horas passaram céleres, vieram o meio-dia, as 13 horas, as 15, e as 16:30; quando o Flamengo e o Grêmio de Porto Alegre entraram em campo, no Maracanã, naquela bela tarde de domingo, tudo  cessou repentinamente.   

Junho 28, 2018

Fernando Zocca

 

 

- De turco, você só tem a burrice – disse em alto e bom som o jovem Donizete Pimenta ao reumático Zé Laburka.

Eles estavam no boteco, onde Laburka matava o tempo levando horas na ingestão de um mísero copo de pinga.

- Esse velhote mudou outro dia mesmo aqui por bairro e já pensa que, dando uma de galo no terreiro, vai fazer das suas estripulias – cochichou Gelino Embrulhano, o dono orgulhoso da viatura mais requisitada na paróquia, usada nos serviços de leva e traz, ao Zé Cílio Demorais que também degustava sua cerveja em lata.

Zé Cílio fora dono do Diário de Tupinambicas das Linhas que tivera contra si centenas de reclamações trabalhistas propostas por trabalhadores que não receberam nadica de nada depois de terem trabalhado durante anos e anos na empresa.

“A Paixão Por Tupinambicas das Linhas” era o sobrenome de O Diário tupinambiquence.  

Zé Cílio sempre fora um poeta. Muito mais do que um verdadeiro profissional da imprensa, não soubera manejar o empreendimento levando-o ao naufrágio depois de muita pendenga.

Mas ali, naquela manhã, no boteco do meio do quarteirão, Zé Laburka que chegara depois de caminhar pela sarjeta, arrastando os seus chinelos velhos, disse ao Donizete Pimenta:

- Você é muito nenê. Não sabe nada da vida. Se eu morei ou não num barraco levantado no meio de um terreno baldio, você não tem nada com isso. É bom você cuidar da sua vida. Não sabe, nem nunca ouviu dizer, o que apronta sua concubina Dani Arruela quando você, cheio de graxa, se afunda nas rodas das bikes.

- Zé Laburka, seu cabeça de porco velho: dizem que você não é enxurrada, mas que também só anda pela sarjeta. Por que isso, velhote inoxidável, se temos calçadas limpas em todos os nossos quarteirões do bairro?

- Não é da sua conta. Você me assustou. Brigou comigo. Fez queixa de mim na polícia e ainda vem me dar bom dia?

- Aqui é assim, coisinha antiga – respondeu Donizete Pimenta Aarder.

- Não sei por que vocês brigam tanto. Parecem gato e cachorro – quis saber a líder mística do trecho Vovó Bin Latem, que, de braços dados com Dina Mitt, adentrava ao estabelecimento do Maçarico intencionando comprar meio quilo de calabresa.

- A senhora fala isso, dona Vovó porque o ardor na mucosa retal alheia não lhe dói – respondeu Zé Laburka rispidamente às duas velhinhas assustadiças.

Ao sair Laburka, autoritariamente, vociferou ao Maçarico:

- Põe na minha conta essa pinga.  

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