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O Prato do Dia

O Prato do Dia

Abril 05, 2016

Fernando Zocca

 

 

 

Pretender derrubar um governo por ser ele apoiado por alguém que supostamente transgrediu tabu, seria o mesmo que propor a queda da monarquia inglesa por ter ela a simpatia do filósofo David Hume (1711-1776), ou do governo português, respeitado por José Saramago (1922-2010).

Seria muito injusto, e desproporcional, condenar as preferências dos tais autores, só por terem eles escrito muito sobre a Bíblia.

Esse tipo de retaliação indireta assemelha-se à atitude do político que, desejando punir alguém supostamente transgressor das normas de conduta, penaliza a população toda com os aumentos dos preços das contas da água.

A intenção de punir os outros, por supostos erros de alguns, difere da tentativa de punição direta como no caso de Salman Rushdie (1947) que, por escrever os Versos Satânicos, foi condenado à morte pelos muçulmanos.

Em todos esses casos observam-se as ações fundadas no ódio, desejo de vingança e séria incapacidade, das cabeças duras, para a racionalização.

Dessa dinâmica de “punir o filho por erro do pai” - os inocentes pagam pelos pecadores - faz parte a arregimentação das forças, por exemplo, de um governo, a serem orientadas a se voltarem contra o próprio governo.

Na prática, hoje em dia, vemos o agir do Judas Iscariotes ou do Joaquim Silvério dos Reis no comportamento do deputado federal Eduardo Cunha que, por não obter o apoio necessário dos seus aliados, voltou-se contra suas próprias estruturas, favorecendo legislação contrária à integridade financeira do estado.

Quando numa avenida, com o trânsito intenso de veículos, o motorista pretendendo sair do fluxo, para entrar na garagem da sua casa e, ao contrário de sinalizar a parada, parar, e manobrar, ele abruptamente, invade a calçada sem se importar com os pedestres que estão passando, sinaliza que mais teme os danos que seu carro possa sofrer do que os possíveis prejuízos causáveis à saúde dos transeuntes.

Da mesma forma é o pensamento do sujeito que para se livrar dos prováveis castigos cometidos por seus crimes procura prejudicar a quem lhe serve de aliado. Ou seja, o cara por estar de bronca com o presidente do clube, marca um gol contra, justamente na partida da decisão do campeonato.

São os inseguros, os ratos, os primeiros a cair fora da situação quando ela não se mostra tão favorável.

Faz parte da personalidade desse tipo o agredir o entorno, aos próximos, quando dentro do ambiente em que vive, ou mesmo em si próprio, há muito desconforto suficientemente insuportável e insolúvel.

É mais fácil arrumar um culpado por todos os dissabores vivenciados no momento do que buscar, e encontrar, a solução para os problemas.

Quando Nicolau Maquiavel (1469-1527) escreveu O Príncipe (1532) ele mostrou como eram os bastidores da política do seu tempo. Entretanto o texto veio na forma de “ensinamento” ao político de como ele deveria agir para obter o poder, livrar-se dos adversários e manter-se no comando.

Não podemos negar que o entendimento do politico comum de hoje, é de que o constatado na obra do escritor seria o correto a ser seguido como receita infalível para a obtenção e a manutenção do poder.

Daí, o que a gente vê no dia a dia é esse lamentável suceder dos escândalos e injustiças que abalam as estruturas do estado.

O amar ao teu próximo como a ti mesmo, ensinado por Jesus significa que quando os doidos de um quarteirão atacam os vizinhos, matam os cachorros, destroem as árvores e as casas desocupadas é desse mesmo jeito que eles gostam de si.

Não é a indiferença da sociedade para com os transgressores que os salvará. O que os livrará das profundezas do inferno é a “reforma interna”, a metanoia, é o “morrer para o pecado”, o transformar-se, é o aprender a conviver em paz, louvando o sagrado.

 

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