Julho 05, 2018
Fernando Zocca
No início da década de 1960 uma das melhores alternativas para o lazer, aqui na cidade, era a pescaria no rio Piracicaba.
Você poderia ir aos cinemas Palácio, Politeama, Broadway, Paulistinha, Colonial, assistir o Exporte Clube XV de Novembro no seu campo próprio, situado à Rua Regente Feijó, ou, é claro, pegando uma varinha daquelas de bambu, acomodar-se numa das margens do rio, ou no bote, ancorado no meio da correnteza, e pescar.
Além da vara de bambu, com a linha e o anzol, você precisaria das iscas, e a gente não conhecia outras que não fossem as minhocas.
Os tais vermes anelídeos conseguíamos, geralmente, cavando a terra do quintal, ou quando estavam muito secas, a das margens do ribeirão Itapeva, naquele trecho em que hoje está a Rodoviária Intermunicipal, construída onde antes havia uma enorme depressão no terreno, sujeita aos alagamentos.
Então para a boa quantidade de isca nós precisávamos de uma lata daquelas de leite em pó, geralmente de leite Ninho, um enxadão e algum esforço no manejo da ferramenta.
Depois de obtida essa parte da tralha, e na posse das demais coisas, como por exemplo, a garrafa de pinga (pra quem bebia), ou de café, cigarros (pra quem fumava), fósforos, um saco pequeno de pano, uma coleção de anzóis de vários tamanhos, carretéis de linhas de pesca e fieira, partia-se pra Rua do Porto, aonde numa pequena área da margem esquerda, chegava-se para as boas horas e horas de passatempo.
Os peixinhos que mais haviam naquela época no rio eram os mandis e lambaris, que depois de pescados, tinham introduzidos na guelra, um arame grosso, que saía pela boca.
Na ponta de baixo, do tal arame, havia um pedaço de madeira amarrada transversalmente. Formava-se então a chamada fieira.
De volta pra casa, geralmente no final da tarde, os peixes eram tirados da fieira e, frequentemente, debaixo dos protestos dos que eram incumbidos para a tarefa de limpeza, tinham no tanque do quintal, o ventre aberto, as vísceras extraídas, a cabeça e o rabo cortados.
Polvilhados com trigo eram então fritos em óleo bem quente para a alegria da criançada festiva.
Não havia pescador profissional. As pescas eram para o lazer. Os que as praticavam exerciam outras profissões como as de ferroviário, pedreiro, comerciante, comerciário e também por desocupados costumeiros.
Texto revisado em 05/07/18