Julho 10, 2018
Fernando Zocca
Quem ouvia o velho programa de rádio chamado Noites do México deliciava-se com as melodias importadas diretamente daquele país da América do norte.
O programa radiofônico tinha como locutor o tenente da Polícia Militar aposentado Dario Correia que, desde 1966, na Rádio Educadora, divertia o seu público.
Naqueles dias a TV ainda era em preto/branco, e as recepções bem ruins; mas quem tivesse um radiozinho portátil poderia, a partir das 20:00 das sextas-feiras, até as 22:00, curtir aquelas músicas vindas do país, donde em 1970, o Brasil sagrou-se tricampeão.
Tinha gente tão fanática que não trocaria uma bela refeição pelos momentos de gozo que as tais sonoridades radiofônicas lhes produzia.
Geralmente o camarada saía de casa com o rádio nas mãos e, ajeitando as pilhas nos fundilhos do aparelho, sentando-se na entrada da residência, acendendo o cigarrinho quebra-peito, “ausentava-se” temporariamente dos problemas familiares e do trabalho.
Os anos eram da Jovem Guarda. Os cabeludos (os barbudos também) que apareciam na TV deixavam as mocinhas boquiabertas e apaixonadas. Tinha moça cujo pai, geralmente emocionalmente desequilibrado, por conta da ingesta da pinga e do tabaco, que não sabia como deixar-se levar pelos prazeres proibidos insinuados nas novelas e filmes então existentes.
Mas apesar de tudo, havia, dentre as irmãs, aquela mais esperta que, sob os vasos das samambaias, pendurados na parede, acima da janela da sala, no cantinho da varanda, driblando a vigilância do pai-fera, desfrutava os prazeres repreensíveis do amor juvenil.
O assédio não era incomum. Nas casas comerciais, geralmente os patrões, para garantirem a vaga no serviço, não deixavam de arremeter praticando atos, hoje em dia condenáveis.
E tome música mexicana.
Nos bares, pontos naturais de fofoca, maledicência e falso testemunho, surgiam muitas histórias criadoras da suposta má fama de muita gente inocente.
Com a sonoridade musical as opiniões se formavam e embasavam o sucesso de várias candidaturas medíocres que mais lesaram os cofres públicos do que geraram progresso pra cidade.
Contam que um deputado estadual, eleito pela cidade, estando na dúvida, entre a aplicação das verbas milionárias, (que conseguira junto ao governo do estado), no melhoramento das sedes de várias instituições municipais ou na aquisição de uma emissora radiofônica particular, escolheu a última.
Uma das consequências daquela decisão foi que nunca mais o tal cidadão conseguiu ocupar um cargo eletivo.
As más línguas diziam que o político frustrado justificava seus insucessos, nas eleições, dizendo que a presidência de um lar para idosos tinha muito mais vantagens do que o exercício do mandato de vereador ou prefeito: é que com a vacância dos bens deixados por muitos velhos, caiam eles – os bens - diretamente sob o controle do político inelegível.
O nosso querido e inestimável Dario Correia faleceu, aos 80 anos, num acidente de automóvel, na rodovia Geraldo de Barros, em 29 de outubro de 2016.
Saudades.