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O Prato do Dia

O Prato do Dia

Outubro 01, 2017

Fernando Zocca

 

 

Em princípios de 1995 meus filhos, minha esposa, eu, mais alguns colegas deles, vizinhos nossos, tivemos por hábito, durante algumas manhãs de domingo, sair defronte a casa onde morávamos, à Rua Bela Vista e, a pé, nos dirigíamos, numa caminhada lenta, porém progressiva, até a chacarazinha do Clube de Regatas que ficava numa estradinha no bairro Pompéia.

O grupo formado por 10 ou 11 pessoas percorria durante quase duas horas uma distância imensa; o trajeto, bastante cansativo, terminava no campo de futebol da chácara.

Naquele ano o Clube de Regatas mantinha um caseiro super bacana que residia no local com sua esposa e dois netos. Lázaro, ou Lazão fora proprietário de um bar antes de ser contratado pelo clube e, por causa dessa experiência, tinha também, sob seu comando, a cantina do local.

Quando a tropa chegava ia, geralmente, pra sombra das jabuticabeiras, mangueiras e goiabeiras. Ao redor de várias delas, havia churrasqueira pronta para o uso.

Muita água e refrigerante precediam a ingesta do churrasco de frango que assava lentamente sob a combustão do carvão trazido no apetrecho.

Os que tinham atestado médico em dia, portanto autorização na carteirinha do clube, não perdiam muito tempo e logo lançavam-se nas águas frescas da piscina legal que lá havia.

Atento às necessidades dos associados Lazão perscrutava o grupo sempre disposto a fornecer refrigerantes, doces e água de coco.

Não era raro acontecer algumas partidas de futebol depois do almoço. A maioria dos moleques levava, na mochila, chuteiras, meiões, calções e camisetas dos seus clubes preferidos.

Numa dessas partidas eu, que permanecia sempre da linha do meio do campo pra trás, objetivando barrar os ataques dos adversários, em uma disputa de bola, com o genro do Lazão pisei, sem querer, e nem imaginar nas consequências, num pedaço de galho, ali jogado no meio do gramado, pela ventania da noite anterior, fazendo com que a extremidade da madeira se elevasse no exato momento em que o adversário chutava, usando o máximo da sua força, com o pé esquerdo. Ao invés de atingir a bola o barrigudo jogador, que tinha os tênis velhos e as meias furadas, chutou a ponta do graveto grosso.

Meu amigo, a gritaria, a choradeira e a xingação que se seguiram foram memoráveis.

A molecada toda parou, bestificada com o escândalo que jorrava em forma de impropérios ali, no meio do campo.

Não faltou quem me criticasse bem como surgiram os que diziam não ter sido nada grave o incidente.

Mas o tal genro, que fora abandonado pela filha do caseiro legal, por não suportar ela tantos desaforos embasados no alcoolismo, choramingando muito, abandonou o campo indo sentar-se a uma mesa bem longe do gramado.

Naquele domingo, quando o sol já se punha no horizonte, a tropa exaurida, porém asseada, com banhos geladíssimos, pôs-se a caminhar lentamente de volta pra casa.          

  

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